A escola de surf algarvia Future Ecosurf School, localizada na Praia da Rocha, doou o valor da sua pegada de carbono anual a um projeto de energia renovável que combate a desflorestação na região do Ceará, Brasil. O donativo vai reforçar o uso de biomassa em processos fabris e a consequente melhoria das condições de vida naquela região brasileira.
“Decidimos pagar a nossa pegada ecológica por uma questão de consciência. Já que ainda não conseguimos desenvolver a nossa atividade sem poluir, apoiamos organizações não-governamentais que consigam, de alguma forma, combater a poluição”, diz Ricardo Gonçalves, responsável da Future Ecosurf School.
“Queremos ter algum vínculo cultural com as ONG que ajudamos. O ano passado apoiamos um projeto em Moçambique; este ano é no Brasil, um país que fala a nossa Língua e um projeto que vai de encontro ao que nós queremos, neste caso reduzir o abate de árvores, minimizando as alterações climáticas”, acrescenta.
O donativo de 330 dólares (291 euros) foi entregue através da Gold Standard, plataforma internacional que certifica a legitimidade e a evolução dos projetos de organizações não-governamentais candidatos a apoio.
O valor do donativo é calculado com base numa fórmula aplicável ao mercado voluntário do carbono, que converte diversos critérios poluidores em créditos de carbono a compensar.
O mercado voluntário tem crescido muito nos últimos anos, uma vez que permite a compensação horizontal de unidades de carbono. É um mercado que permite a qualquer empresa doar o valor equivalente à sua emissão de carbono anual diretamente a uma organização não-governamental com projeto ecológico certificado.
O Projeto Energia Renovável Ceará atua numa região brasileira fortemente afetada por seca e pobreza e tem na mira uma das principais causas de desflorestação: o abate ilegal de árvores. A abordagem consistiu em trocar o combustível usado por cinco fábricas de cerâmica, de madeira ilegal para resíduos agrícolas e industriais. O uso de biomassa combustível permite também à população local complementar o rendimento familiar através da venda dos seus próprios desperdícios às fábricas.
Nos últimos anos, este projeto no Ceará já salvou 1750 hectares de floresta, uma área equivalente a 1400 campos de futebol. Melhorou também a qualidade do ar respirado por três centenas de operários fabris e estimulou as fábricas a implementar sistemas de reutilização da água desperdiçada no processo produtivo.
A escola de surf Future Ecosurf School existe há mais de duas décadas e adotou nos últimos dois anos o princípio Ecosurf. “Queremos ir ao encontro do que dizia Ghandi: sê a mudança que queres ver no Mundo. Sinto-me muito virado para isso e a sociedade está mais recetiva. É uma causa urgente e passou a ser um sonho bonito que agora é economicamente viável”, explica Ricardo Gonçalves.
A mudança inclui a procura de equipamento ecológico (reciclado, ou não poluente), meios de transporte elétricos (caso da mais recente carrinha da escola), upcycling (reutilizar, por exemplo, fatos de neoprene obsoletos, dando-lhes uma nova vida), comprar localmente e envolver a comunidade.
“O objetivo é ter o mínimo impacto na Natureza. Para isso assumimos também o compromisso de doar parte das nossas receitas a causas ambientais, através da plataforma 1% Para o Planeta. É como pagar a renda ao senhorio; porque nós usamos o Planeta e não pagamos renda”, sublinha o responsável da Future Ecosurf School.