«Projetos visionários» e «de futuro» são prioridade para Mário Tomé em Mértola

Jorge Rosa despediu-se da cadeira do executivo, para assumir a presidência da Assembleia Municipal

Mário Tomé, novo presidente da Câmara Municipal de Mértola – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

«Projetos visionários», como a Estação Biológica de Mértola e a Galeria da Biodiversidade, o Lar das Cinco Freguesias, o CAO, Centro Ocupacional para Pessoas Portadoras de Deficiência, a construção do novo Centro Escolar e da nova zona industrial em Mértola, a Certificação de Mértola como Destino Sustentável, a criação do Geoparque do Vale do Guadiana, a candidatura de Mértola a Património da Humanidade, o Museu de Mértola, ou a luta para «mitigar a demografia negativa». Estes são alguns dos projetos e objetivos do socialista Mário Tomé, novo presidente da Câmara Municipal de Mértola, que tomou posse na sexta-feira à noite.

Depois da instalação dos órgãos autárquicos para o quadriénio 2021/2025, com a posse dos deputados da Assembleia Municipal e dos membros do executivo municipal, seguiu-se a passagem de testemunho entre o presidente da Assembleia Municipal cessante (Mário Martins) e o novo líder desse órgão, Jorge Rosa, que, até há poucos momentos antes, era ainda presidente da Câmara de Mértola.

Curiosamente, a lista apresentada para a Mesa da Assembleia Municipal, composta por Jorge Rosa e por dois jovens deputados municipais (Afonso Domingos e Ana Patrícia Candeias» foi eleita por unanimidade, com os votos a favor dos membros do PS e da CDU.

No seu discurso, que foi de despedida do executivo municipal, onde esteve durante 20 anos, mas também de aceitação das novas funções como presidente da Assembleia Municipal, Jorge Rosa, muito emocionado e muito aplaudido, salientou: «termino hoje 20 anos de poder executivo, 13 dos quais como presidente de Câmara».

Fazendo o balanço, afirmou que «foram 20 anos em que o concelho de Mértola progrediu como nunca».

Como exemplos, enumerou, «apenas podemos olhar para o local em que estamos e imaginar o antigo barranco, podemos olhar para mais de 30 localidades do concelho e imaginá-las sem esgotos e com redes de águas precárias e sem tratamento, podemos lembrar-nos de um campo de futebol em terra batida ou de um parque desportivo e de lazer que não existia, podemos lembrar-nos de uma ponte escura, de uma outra em perigo e de outra que nem existia e que hoje nos permite a relação com o país vizinho. Podemos olhar para o rio e lembrar-nos do desassoreamento que foi falado durante anos e que só avançou nesta gestão, como podemos falar da requalificação ambiental de São Domingos, muito falada, mas que só avançou também nesta gestão, da eletrificação rural ou de um lar que tivemos a coragem de iniciar, de muitos quilómetros de estradas que fizemos ou reparámos, de edifícios em ruínas e outros que requalificámos para habitação social».

 

Jorge Rosa – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Jorge Rosa destacou ainda os «reconhecimentos públicos em várias áreas»: Mértola Capital Nacional da Caça, uma estratégia de aproveitamento dos recursos endógenos, «relacionada com a ciência e com a pesquisa académica de um parque natural, que foi trabalhada durante 12 ou 13 anos e que todos conhecem agora como a futura Estação Biológica de Mértola e Galeria de Biodiversidade, que vão ser realidade no próximo mandato».

Por isso, salientou, há agora «muito trabalho feito, mas muito ainda por fazer. O trabalho de um município nunca acaba!»

O autarca congratulou-se com o facto de Mértola sempre ter tido «pessoas capacitadas, com experiência e com conhecimentos para desenvolver» a estratégia da Câmara que liderou.

Jorge Rosa saudou ainda «a equipa que preparei nos últimos quatro anos para fazer uma transição forte», e que agora passa a assumir os destinos de Mértola nos próximos quatro anos.

Mário Tomé, que integrava essa anterior equipa de Rosa e agora é o novo presidente da autarquia, salientou a existência de «projetos de continuidade, outros a implementar de novo, outros em ação».

Entre eles, destacou a área da mobilidade e dos transportes, onde será feito o «ensaio de modalidades de transporte mais flexíveis e ajustadas à muito baixa densidade», nomeadamente o «transporte a pedido», bem como «o reforço das formas de mobilidade suave e do apoio à mobilidade elétrica».

Destacou ainda a importância da «conetividade digital», integrando o município «na estratégia regional de transição digital, fundamental para a fixação e atração de pessoas e oportunidades de negócio».

Na área da ação social, realçou «projetos para o futuro», como o Lar das Cinco Freguesias e o CAO, Centro Ocupacional para Pessoas Portadoras de Deficiência.

Na Habitação Social, Mário Tomé anunciou a intenção de «reforçar o apoio aos mais vulneráveis, continuando o programa de melhoramentos habitacionais e a resposta de habitação social», bem como de fazer uma aposta «de forma robusta» na Estratégia Local de Habitação, que prevê «uma oferta considerável de habitação para arrendamento acessível, aliada a projetos de recuperação de imóveis degradados e de construção de novos lotes para arrendamento».

Ainda na habitação, referiu a infraestruturação da nova zona de expansão 3, que prevê mais 30 lotes para autoconstrução.

 

Mário Tomé – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Projeto que o novo edil considerou «muito importante para Mértola e para o território» é a construção do novo Centro Escolar, que «permite um ensino absolutamente integrado, desde o pré-escolar ao 12º ano».

Também «estruturante», será a construção da nova zona industrial em Mértola, na zona sul do concelho, perto dos Bernardinos.

Destacando a importância do setor do Turismo para a economia do concelho, o presidente relevou alguns projetos em curso, nomeadamente a Certificação de Mértola como Destino Sustentável, o Geoparque do Vale do Guadiana e a candidatura de Mértola a Património da Humanidade, que permitirá «catapultar Mértola para uma dimensão global».

Mas o novo executivo municipal irá ainda continuar a apostar no «Património enquanto elemento distintivo», com destaque para o projeto do Museu de Mértola e os conjuntos urbanos classificados da vila de Mértola, Mina de São Domingos e Pomarão.

No entanto, defendeu, a «capacitação para o futuro faz-se de projetos visionários, como a Estação Biológica de Mértola e a Galeria da Biodiversidade».

Mas não se cinge a esses projetos: «faz-se também com a promoção de redes locais, regionais, nacionais, transfronteiriças e internacionais, nas áreas da ciência, da inovação, da cultura e da economia, ligando Mértola, tal como no passado, naquilo que é a nossa génese, em rede, a territórios, a centros de conhecimento e tecnologia mais densos no seu capital humano, por forma a incentivar e beneficiar de fluxos contínuos de pessoas, de processos colaborativos, de ideias e investimento que nos ajudem a superar e mitigar um problema que temos todos de assumir coletivamente, que é a demografia negativa com que vivemos no nosso território, advogando para Mértola uma nova centralidade e um futuro assente na sustentabilidade».

 

Grupo Coral Guadiana de Mértola – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Numa sessão que foi pontuada pelas vozes masculinas afinadas dos cantadores do Grupo Coral Guadiana de Mértola, e que teve muita emoção à mistura, não ficou esquecida a forma «atípica» como decorreu a campanha eleitoral.

Jorge Rosa, no seu discurso, fez uma crítica fortíssima a alguns dos seus opositores.

«Tivemos em disputa, neste ato eleitoral, cinco forças políticas para a Câmara e três para a Assembleia Municipal. Destas cinco, duas claramente têm cultura política e pergaminhos em Portugal: falo do Partido Socialista e da Coligação Democrática Unitária», começou por dizer o antigo presidente da Câmara.

«As restantes três são o Chega, de que me dispenso de falar, e dois movimentos de cidadãos, um com pouca ou nenhuma cultura política e outro sem cultura nenhuma, como demonstrou nas suas publicações e intervenções nesta campanha», acrescentou o novo presidente da Assembleia Municipal.

Emocionado, Jorge Rosa disse que «há em todas as equipas pessoas mais intensas na relação com os opositores, o que nós, habituados a essas refregas, até desculpamos, mas fotos do domínio privado, com citações caluniosas e não verdadeiras, descontrolo da linguagem, a ponto de ofender a integridade da pessoa e dos seus amigos e familiares, foi neste grupo uma constante».

«Eu fui mesmo o alvo principal. Os meus amigos e família, ao verem estes escritos, perguntavam-me: mas não se faz nada? Não lhes respondemos? E eu fui sempre dizendo: logo lhes respondemos, a resposta virá na altura certa. Finalmente a resposta chegou, no dia 26 de Setembro e, de uma forma expressiva, foi dada pelo povo. O povo de Mértola elegeu apenas representantes das tais duas forças com cultura política – o PS e a CDU – e claramente disse aos restantes: vocês não servem para Mértola! Foi a melhor resposta de todas!»

Perante a ovação com que as suas palavras emocionadas foram recebidas, Jorge Rosa comentou, num aparte: «há poucas coisas que me emocionam, mas a política e o Sporting são essas duas coisas».

 

Os presidentes – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Também o novo presidente da Câmara Mário Tomé, à margem do discurso que trazia preparado, fez questão de abordar a mesma questão.

«A vida autárquica e o processo autárquico é difícil, todos nós temos carreiras profissionais que seguimos e que idealizamos, todos temos as nossas competências pessoais, e, a determinada altura da vida, alguns de nós optam por este caminho, que é muito difícil. Muitas vezes, muitos de nós paramos para pensar porquê? Porque podíamos fazer de forma diferente», começou por dizer.

«E não me refiro à política macro, de âmbito nacional, porque essa não conheço em profundidade. Na política local, quando olho para as vidas e carreiras profissionais e empresariais sólidas e penso que [essas pessoas] estão nesta vida para trabalhar pelo desenvolvimento local e pelas pessoas, muitas vezes faço esta pergunta, que fiz a mim próprio: Porquê?»

Mário Tomé criticou aqueles que «se maltratam uns aos outros, que permitem que se maltrate», considerando que «isso é grave para estes territórios e para as pessoas», porque afasta os mais capazes da política, para não sofrerem enxovalhos. É que, concluiu, em consequência, «aquilo que vai acontecendo é que os menos capacitados vão estar mais vezes a gerir o destino dos concelhos e das pessoas».

Em contraste com essas atitudes, o socialista Mário Tomé, que até tem maioria absoluta na autarquia e conta com o apoio maioritário da Assembleia Municipal, elogiou os autarcas comunistas, seja o vereador eleito para a Câmara, seja os deputados municipais da CDU. Com todos, disse esperar trabalhar em espírito de colaboração.

As intervenções de Jorge Rosa e de Mário Tomé foram muito aplaudidas pelas largas dezenas de pessoas que enchiam a sala de conferências do Pavilhão Multiusos de Mértola, incluindo pelos autarcas eleitos pela CDU.

No final, virando-se para a sua equipa, o novo presidente da Câmara gracejou: «grande equipa, grande olhinho que eu tive para a sua escolha».

A terminar a sessão de instalação dos novos órgãos autárquicos, foi cantado, a plenos pulmões, o Hino Nacional.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 

Tomada de Posse dos Órgãos Autárquicos de Mértola

CÂMARA MUNICIPAL
Mário Tomé, presidente (PS)
Rosinda Pimenta, vereadora (PS)
Luís Morais Costa, vereador (CDU)
Luís Reis, vereador (PS)
António Cachoupo, vereador (PS)

ASSEMBLEIA MUNICIPAL
>Jorge Rosa (PS), eleito presidente
>Orlando Pereira (CDU)
>Cláudia Celestino (PS)
>Afonso Domingos (PS), eleito 1º secretário
>Miguel Bento (CDU) – não tomou posse, por ausência justificada
>Maria do Céu Pinto de Andrade (PS)
>Ana Morgado (CDU)
>Mário Martins (PS)
>Ana Patrícia Candeias (PS), eleita 2ª secretária
>Jorge Revez (CDU)
>Manuel Pereira (PS)
>Cláudia Arsénio (PS)
>Pedro Lourenço (CDU)
>José Costa (PS)
>Maria Mariana Lopes (CDU)

PRESIDENTES DAS JUNTAS DE FREGUESIA
(também com assento, por inerência, na AM)

>Joaquim Pires (PS), Freguesia de Alcaria Ruiva
>Ricardo Godinho (PS), Freguesia de Corte do Pinto
>Luís Caetano (PS), Freguesia de Espírito Santo
>Maria Fernanda Cavaco (PS), Freguesia de Mértola
>Rui Colaço (PS), Freguesia de Santana de Cambas
>Mariana Costa (PS), Freguesia de São João dos Caldeireiros
>António Peleija (PS), União das Freguesias de São Miguel do Pinheiro, São Pedro de Sólis e São Sebastião dos Carros

 



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