O dia até era de aniversário de Rute Silva, que esta quinta-feira, 7 de Outubro, tomou posse como a primeira mulher presidente da Câmara de Vila do Bispo. No entanto, sem garantir maioria no executivo e com uma Assembleia Municipal onde a oposição garantiu a presidência, a autarca só poderá esperar que este não seja um presente envenenado.
No executivo, composto por cinco mandatos, além de Rute Silva, presidente da Câmara, os socialistas apenas elegeram o vereador Fernando Santana. Os restantes três lugares são ocupados pela oposição: Dino Lourenço e Luís Paixão, pelo movimento independente Somos Pelo Concelho Vila do Bispo, e ainda Paula Freitas, eleita pela coligação liderada pelo PSD e que juntava ainda CDS, MPT e PPM. Ou seja, para conseguir levar a água ao seu moinho, a nova presidente terá que pôr à prova as suas capacidades de negociação.
Na Assembleia Municipal, apesar de o mais votado nas Eleições Autárquicas de 26 de Setembro até ter sido o PS, com a lista encabeçada por Armindo Vicente, a oposição tem a maioria, para mais reforçada pelas inerências dos presidentes das Juntas de Freguesia. E assim, Luciano Rafael, que encabeçava a lista do movimento Somos Pelo Concelho Vila do Bispo, acabou por ser eleito como presidente da Assembleia Municipal, na primeira sessão que teve lugar logo após a posse dos novos autarcas.
Dos 18 votos possíveis (seriam 19, mas um dos novos membros da AM não compareceu à posse por «razões familiares»), 10 foram para a lista de Luciano Rafael, que terá como 1ª secretária Vanda Oliveira e como 2ª secretária Maria das Candeias Baptista. Houve um voto em branco.
Ou seja, mais uma vez, tudo indica que a tarefa da nova presidente da Câmara não será fácil.
No seu discurso de posse, Rute Silva começou por salientar o «marco muito significativo na história cívica do nosso concelho: a eleição da primeira mulher presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, facto que me orgulha profundamente, enquanto pessoa, mulher e munícipe». Por isso, sublinhou, «assumo uma responsabilidade acrescida na representação das mulheres desta nossa terra e na defesa dos valores da igualdade, paridade e humanidade».
A sua presidência sem maioria é assumida pela nova autarca como uma «implacável mensagem» deixada pelos eleitores, mas também como o resultado de «manobras operadas no submundo da política local». Para bom entendedor…

Sobre a tarefa que espera o executivo que ontem tomou posse, Rute Silva disse contar com o contributo de todos, mesmo da oposição. O trabalho, sublinhou, «depende da convergência de vontades e sobretudo da nossa responsabilidade cívica e da superior noção de bem comum, pelo que conto com todos os eleitos, para que, juntos, contribuamos para o desenvolvimento da nossa terra e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes».
Por isso mesmo, afirmou a sua «positiva expectativa, em relação aos membros deste novo executivo camarário, que, acredito, tudo farão, de forma plural, transparente e democrática, para privilegiar uma governação harmoniosa, com vista à concretização de, pelo menos, os pontos comuns dos nossos programas eleitorais, não esquecendo que estão em causa projetos amplamente divulgados junto da população».
Ana Bela Martins, a presidente da Assembleia Municipal cessante, vaticinou que «estes quatro anos vão correr bem», tendo desejado que «aquilo que vos une, o amor a Vila do Bispo e às suas gentes, seja muito mais importante que aquilo que vos separa, que são as diferenças políticas».
Luciano Rafael, que tinha sido cabeça de lista à Assembleia Municipal pelo movimento Somos Pelo Concelho Vila do Bispo e que, apesar de não ter sido o mais votado diretamente nas Eleições Autárquicas, acabaria por ser eleito presidente deste órgão, avisou, numa publicação partilhada na página de Facebook do SPCVB: «a cooperação e trabalho entre os dois órgãos [Câmara e Assembleia Municipal ] é fundamental, mas nunca de forma acrítica e aceitando todas as propostas como facto consumado».

Por seu lado, no discurso de tomada de posse, Rute Silva anunciou que, «ao longo dos últimos quatro meses», a Câmara de Vila do Bispo já tinha estado a trabalhar «na definição de um ambicioso plano estratégico que permitirá assegurar as condições para que possamos efetivamente ser competitivos no acesso ao financiamento comunitário do Plano de Recuperação e Resiliência».
Hoje mesmo, garantiu, vai avançar «na execução de um plano estratégico assente em seis pilares essenciais: pessoas, habitação, qualidade de vida, competitividade, ambiente e sustentabilidade».
A nova edil, admitindo que «a disponibilidade de habitação constitui o maior problema do nosso concelho», sendo uma questão «de difícil solução e transversal a outros territórios eminentemente turísticos, pois depende das leis do mercado e da livre concorrência», disse que «na verdade, não faltam casas nesta terra. Falta, sim, executar mecanismos que permitam mitigar as crescentes dificuldades no acesso à estabilidade de um lar».
Por isso, Rute Silva definiu como «prioridade máxima, para os próximos anos, a execução do plano estratégico de habitação, com a construção de casas acessíveis e o reforço das rendas apoiadas, aquisição de novos terrenos para habitação, entre outras medidas que visam minorar as dificuldades no acesso à estabilidade de um lar, promovendo a fixação de população, com especial atenção aos jovens e empreendedores».
Nesse âmbito, assumiu o compromisso de, depois de contratualizado com o IHRU, «entregar as primeiras casas até 2025».
Outra tarefa importante para a autarquia é «a fase final da revisão do PDM, a concluir até 31 de Dezembro de 2022».
Mas a autarca definiu ainda a «saúde, educação, mobilidade e acessibilidades» como «áreas essenciais para o bem-estar e qualidade de vida das nossas populações, bem como para a viabilidade e competitividade socioeconómica do território».
A tomada de posse dos novos órgãos autárquicos de Vila do Bispo decorreu no seu Centro Cultural, tendo contado com a presença do presidente e vice presidente da CCDR Algarve (José Apolinário e José Pacheco), da diretora regional de Cultura do Algarve (Adriana Nogueira), do reitor da Universidade do Algarve (Paulo Águas), e de outras personalidades, entre as quais José Gonçalves, presidente reeleito da vizinha Câmara Municipal de Aljezur.
Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação
O executivo camarário de Vila do Bispo para o período 2021/2025 é composto, além de Rute Silva, por Fernando Santana, ambos eleitos pelo PS, por Dino Lourenço e Luís Paixão, que representam o movimento Somos pelo Concelho Vila do Bispo – SPCVB, e por Paula Freitas, eleita pela coligação PSD/CDS-PP/MPT e PPM.
A nova Assembleia Municipal é constituída pelos 15 deputados municipais eleitos diretamente, 5 pela lista do PS, 5 pela lista do movimento Somos pelo Concelho Vila do Bispo – SPCVB, 4 pela lista da coligação PSD/CDS-PP/MPT e PPM e 1 pela lista do BE, e os ainda pelos 4 presidentes das Juntas de Freguesia eleitos, 1 pela Lista Unitária pelo Progresso, 1 pelo PS e 2 pelo movimento Somos pelo Concelho Vila do Bispo – SPCVB.