Viver com uma ostomia no Algarve após o diagnóstico de Cancro do Reto

A Consulta de Enfermagem de Estomaterapia pretende dar seguimento a todas as pessoas com ostomia residentes na região do Algarve

O Cancro do reto constitui uma doença que afeta milhões de pessoas a nível mundial, sendo que, em Portugal, corresponde ao segundo tipo de tumor maligno mais frequente.

Após o seu diagnóstico, a linha de tratamento frequentemente requer a realização de uma intervenção cirúrgica, podendo haver a necessidade da construção de uma ostomia de eliminação. Estima-se que, em Portugal, existam cerca de 15 mil pessoas com ostomia, onde as ostomias de eliminação decorrentes de patologias oncológicas são as mais frequentes.

A presença de uma ostomia é uma condição que se encontra associada à fragilidade emocional e psicológica da pessoa, podendo repercutir-se na diminuição da sua autoestima e qualidade de vida, alteração da imagem corporal e isolamento social.

De forma a permitir uma melhor adaptação, a pessoa com ostomia é seguida na Consulta de Enfermagem de Estomaterapia do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA).

O que é uma ostomia de eliminação? Uma ostomia de eliminação consiste numa abertura na parede abdominal realizada através de uma técnica cirúrgica que permite a eliminação de efluentes para o exterior, como fezes ou urina.

Existem vários tipos de ostomias de eliminação, sendo que, nas situações referentes ao tratamento do Cancro Colorretal, decorrem dois principais tipos de ostomias: a colostomia (esta é a mais frequente e permite a ligação do intestino grosso com o exterior) e a ileostomia (que permite a ligação do intestino delgado ao exterior).

Qualquer um destes tipos de ostomia pode ser temporária (quando se verifica a possibilidade de uma cirurgia posterior para o restabelecimento do trânsito intestinal) ou definitiva (quando não se verifica a possibilidade de reconstruir o trânsito intestinal).

Sempre que a pessoa tem uma ileostomia ou uma colostomia, não se verifica a capacidade de controlar de forma consciente a saída de fezes para o exterior, pelo que é necessário recorrer ao uso de um dispositivo (saco) colado na parede abdominal em torno da ostomia, de forma a permitir a recolha do conteúdo intestinal para o seu interior.

O período pós-operatório decorrente da construção de uma ostomia constitui um momento de enorme fragilidade, medo e ansiedade, onde a pessoa se confronta não só com a presença da doença, como também com a alteração da sua autoimagem, onde se requer a aquisição de novas aprendizagens que lhe permitam adaptar a sua vida à presença de uma ostomia.

Frequentemente é possível constatar sentimentos de insegurança, medo do desconhecido e receio de não ser capaz de se adaptar à sua nova condição. No entanto é muito importante que cada um não se deixe dominar por esta sensação de medo, pois ninguém nasce ensinado, e todas as alterações que decorrem ao longo da vida requerem um período de adaptação e aprendizagem.

Neste sentido, a presença de uma ostomia não deve ser unicamente representativa da existência de uma doença. A presença de uma ostomia pode e deve ser encarada como uma possibilidade de tratamento e cura deste tipo de Cancro. Não vemos a ostomia como uma limitação, vemos a ostomia como uma possibilidade de dar continuidade à vida.

De acordo com a Direção-Geral da Saúde a intervenção de enfermagem “à pessoa a ser submetida a ostomia de eliminação intestinal deve ser efetuada nas fases pré e pós-ostomia por enfermeiros com experiência e formação específica e reconhecida em cuidados de estomaterapia, a nível dos cuidados hospitalares (consulta de enfermagem de estomaterapia e unidade de internamentos), dos cuidados domiciliários, das unidades de internamento de cuidados continuados e de cuidados paliativos e dos cuidados de saúde primários”.

De forma a dar resposta a este direito da pessoa com ostomia, e pretendendo-se contribuir para a sua melhor adaptação e segurança, esta é acompanhada na Consulta de Enfermagem de Estomaterapia do CHUA.

O seguimento inicia-se no internamento hospitalar ainda no período anterior à cirurgia de forma a preparar a pessoa para intervenção cirúrgica, prossegue durante o processo de internamento e prolonga-se após o período de alta hospitalar. Todas as pessoas com ostomia podem ser acompanhadas nesta consulta por tempo indefinido, ou seja, apenas recebem alta da consulta por vontade própria ou caso deixem de ter ostomia (nas situações de ostomias temporárias).

A Consulta de Enfermagem de Estomaterapia pretende dar seguimento a todas as pessoas com ostomia residentes na região do Algarve, desde a idade pediátrica até à idade adulta.

Os principais objetivos da Consulta de Enfermagem de Estomaterapia consistem em esclarecer todas as dúvidas que possam surgir à pessoa, orientar nos aspetos práticos referentes aos cuidados a ter com a ostomia, colaborar no processo de recuperação através da alimentação, exercício físico e repouso adequados, permitido um regresso seguro ao domicílio.

Pretende-se que a pessoa possua conhecimentos e estratégias que lhe permitam adaptar-se às suas necessidades, prevenir complicações relacionadas com a ostomia e promover um retorno às suas atividades de vida de forma confiante e devidamente informada.

Esta consulta permite ainda estabelecer interligação com outros profissionais de saúde (nomeadamente médicos, nutricionistas, psicólogos), esclarecer acerca dos direitos da pessoa com ostomia, orientar quanto aos locais onde pode procurar ajuda, e dar a conhecer os diversos materiais e produtos de ostomia existentes no mercado.

Após o período de recuperação da cirurgia, a pessoa com ostomia pode manter o seu estilo de vida, as suas atividades e a sua vida social. Pode e deve manter-se ativa, viajar, praticar desporto, frequentar a praia/piscina e manter a sua vida sexual. Esta adaptação encontra-se muito facilitada caso a pessoa se sinta devidamente orientada, segura e confiante para dar seguimento ao seu quotidiano.

Para tal, a equipa de enfermagem que integra o Serviço de Internamento e a Consulta de Enfermagem de Estomaterapia encontra-se disponível para colaborar neste processo de adaptação.

 

Autora: Magali Cavaco Palma é enfermeira na consulta de Estomaterapia e integra o Centro de Referência do Cancro do Reto do CHUA

Nota: Artigo publicado no âmbito da parceria com o Centro de Referência do Cancro do Reto do CHUA, de modo a contribuir para o aumento da literacia em saúde, especificamente sobre as questões relacionadas com o CCR.

 

 

 

 
 



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