Terras sem Sombra termina em Odemira com Mozart, pesca e o Forte de São Clemente

Odemira é a última paragem do Festival Terras sem Sombra 2021, cuja temporada arrancou em Junho, em Barrancos

Um concerto com obras de Mozart e Vanderhaegen e visitas ao Forte de São Clemente e aos «encantadores portinhos de pesca». É o Festival Terras sem Sombra que termina no próximo fim de semana, 18 e 19 de Setembro, com dois dias muito especiais.

Tudo começará no sábado, às 15h00, com a última ação de Património desta temporada do Terras sem Sombra.

Desta vez, a ida é ao Forte de São Clemente, em Vila Nova de Milfontes. Implantado, de forma estratégica, num esporão rochoso perto da embocadura do rio Mira, o Forte – conhecido localmente por castelo de Milfontes – visou as máximas possibilidades defensivas naturais, de modo a cobrir com eficácia a entrada do porto. Foi erigido entre 1599 e 1602, em pleno período filipino, no contexto de grave assédio do corso marítimo, sobretudo por parte de piratas oriundos de Argel.

A fortificação – exemplo da arquitetura militar maneirista – é um Imóvel de Interesse Público, o único a ostentar tal classificação no concelho de Odemira.

Referência paisagística incontornável na vila que protegeu e viu crescer, o guardião do rio Mira foi vendido em hasta pública em 1903. Desde então, tem permanecido em mãos privadas e servido diversos propósitos, aguardando hoje outros ventos e marés.

Esta visita será guiada pelo historiador António Martins Quaresma, grande conhecedor do património vilanovense, com a colaboração dos atuais proprietários do monumento.

Segue-se, à noite, um concerto, a partir das 21h30, no Cineteatro Camacho Costa, em Odemira.

O último espetáculo da 17.ª edição do Festival, a cargo de um dos mais proeminentes ensembles europeus de música antiga da atualidade, promete ser um dos momentos altos do Terras sem Sombra.

Vindo da Bélgica – o país convidado de 2021 –, o Terra Nova Collective integra músicos oriundos de orquestras e ensembles de renome mundial e conta com atuações em grandes palcos internacionais.

Fundado em 2012 por Vlad Weverbergh, o coletivo tem como objetivo primordial contribuir para desenvolver o conhecimento dos repertórios barroco e clássico a partir de uma investigação musicológica pioneira.

Esta orquestra de câmara cujo epicentro se situa na histórica cidade de Antuérpia, com grandes ligações a Portugal, apresentará em Odemira o concerto “Expressão de Forças Absolutas: Mozart e Vanderhaegen”.

A abrir o programa, interpretará Pièces d’harmonie, do famoso compositor flamengo Amand Vanderhaegan (1753-1822). Considerado um dos maiores clarinetistas da época, as suas composições conquistaram as audiências parisienses no período napoleónico e são ilustrativas do estilo clássico tardio.

Segue-se a Serenata para sopros, K. 361, “Gran Partita”, de W. A. Mozart (1756-1791). Composta para 12 instrumentos de sopro e um contrabaixo, a famosa serenata do prodígio vienense é considerada uma obra-prima vibrante, plena de expressividade e lirismo.

No domingo de manhã (19 de Setembro, 9h30), terá lugar a ação de sensibilização para a salvaguarda da biodiversidade costeira. O encontro está marcado para o Porto do Canal, nas imediações de Vila Nova de Milfontes, ponto de partida para um périplo por alguns dos portinhos de pesca do concelho: Canal (Vila Nova de Milfontes), Lapa das Pombas (Almograve), Entrada da Barca (Zambujeira do Mar) e a Azenha do Mar (na localidade com o mesmo nome).

Guiados por António Jorge Campos (técnico municipal), António Martins Quaresma (historiador), Mário Pires e Fernando Manuel (pescadores), os participantes terão oportunidade de contactar com a atividade piscatória do concelho e compreender a importância económica e social de que se reveste no contexto local.

Cada povoação desenvolveu métodos e técnicas de pesca próprios, de carácter artesanal, adaptados às condições naturais das falésias.

Odemira é a última paragem do Festival Terras sem Sombra 2021, cuja temporada arrancou em Junho, em Barrancos. Neste ano atípico, o Festival alentejano celebrou o renascer sob o mote “Através do Incêndio: Contingências, Expectativas e Superações na Música Ocidental (Séculos XVI-XXI)”.

De Junho a Setembro, 10 concelhos das quatro sub-regiões alentejanas – Alto Alentejo, Alentejo Central, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral – receberam as atividades do Terras sem Sombra, tendo-se estreado, como anfitriões, os municípios de Alter do Chão, Castelo de Vide e Viana do Alentejo.

O Festival Terras sem Sombra é uma estrutura financiada pela Direção-Geral das Artes.

 

Resumo de todas as atividades:

PATRIMÓNIO
Vila Nova de Milfontes (Odemira), 18 de Setembro, 15h00
Ponto de encontro: Forte de São Clemente
Atividade orientada por António Martins Quaresma (historiador)

Guardião do Rio Mira: O Forte de São Clemente
A edificação do forte de Milfontes – conhecido localmente por “castelo” – decorreu entre 1599 e 1602, no contexto de grave assédio do corso marítimo. Foi projetado pelo engenheiro italiano Alexandre Massai, que estudou o local com minúcia em 1598. Erguido sobre esporão rochoso, a cerca de 1 km da embocadura do rio, para onde apontava as baterias, a sua implantação buscou as máximas possibilidades defensivas naturais, de modo a cobrir eficazmente a entrada do porto. A traça obedeceu à tipologia de uma fortificação moderna preparada para receber e defender-se de armas de fogo, consoante as novas exigências da pirobalística. De planta grosseiramente quadrangular, parece avançar em cunha sobre o estuário e abrigar a vila com a sua mole, expondo ao fogo de possíveis inimigos uma superfície angular, destinada a amortecer os impactos dos projéteis. Embora sendo uma estrutura funcional, prevalecia na paisagem como uma marca ameaçadora do poder régio, cuja “mensagem” podia (e devia) ser claramente percebida por todos, inimigos e amigos. A escolha do santo patrono é homenagem de D. Filipe II, em tempos da Monarquia Dual, ao papa Clemente VIII.

 

BIODIVERSIDADE
Vila Nova de Milfontes/ Longueira-Almograve/ São Teotónio, 19 de Setembro, 9h30
Ponto de encontro Porto do Canal – Vila Nova de Milfontes
Atividade orientada por António Jorge da Costa Campos (técnico municipal), António Martins Quaresma (historiador), Mário Pires e Fernando Manuel (pescadores)

Portinhos de Pesca: A Atividade Piscatória no Concelho de Odemira

No final do século XIX encontravam-se na orla costeira do Sudoeste Alentejano algumas povoações piscatórias, pouco relevantes no contexto nacional, mas de extrema importância no contexto local e regional, responsáveis pelo emprego de muitos homens e mulheres. Actualmente, a comunidade piscatória do concelho de Odemira está concentrada nas localidades de Vila Nova de Milfontes, Almograve, Zambujeira do Mar e Azenha do Mar. Povoações com métodos e técnicas de pesca próprios, adaptadas às condições naturais das falésias, que apenas mais tarde sofreram algumas intervenções. Neste contexto, mantêm actividade quatro portos de pesca do concelho: Portinho do Canal (Vila Nova de Milfontes), Lapa das Pombas (Almograve), Entrada da Barca (Zambujeira do Mar) e a Azenha do Mar (na localidade com o mesmo nome). Aí, laboram cerca de 150 pescadores, numa frota de 75 embarcações de pesca artesanal. Paralelamente, desenvolveram-se circuitos comerciais em torno da actividade. Sargo, robalo, congro ou safio, safia, pata-roxa, pampo, abrótea, besugo, búzio ou polvo, assim como crustáceos, destacando-se as navalheiras e os perceves, estão entre as espécies capturadas, algumas de grande valor comercial.

 

MÚSICA
Odemira, 18 de Setembro, 21h30
Local: Cineteatro Camacho Costa

Terra Nova Collective
Direção musical Vlad Weverbergh

Programa “Expressão de Forças Absolutas: Mozart e Vanderhaegen”

Amand Vanderhagen [1753-1822]
Pièces d’harmonie

Wolfgang Amadeus Mozart [1756-1791]
Serenata para sopros, K. 361,
“Gran Partita”

 

BIOGRAFIAS

TERRA NOVA COLLECTIVE

Sediado em Antuérpia, uma cidade repleta de história, este agrupamento tem como objetivo primordial contribuir para desenvolver o conhecimento do repertório clássico a partir de uma investigação musicológica pioneira em diversas frentes.
É constituído por músicos oriundos de orquestras e ensembles de renome mundial, entre eles Anima Eterna, Les Muffatti, B’Rock Orchestra, Les Agrémens, Freiburger Barockorchester, Concerto de Colónia e Le Concert d’Astrée.
Tem como principais parceiros de investigação o Musée des Instruments de Musique (Musées Royaux d’Art et d’Histoire), de Bruxelas, o Vleeshuis Museum e o Studiecentrum voor Vlaamse Muziek (Centro de Estudos da Música Flamenga), de Antuérpia. Convida regularmente investigadores de referência para os seus projectos, v.g., Piet Stryckers (Koninklijk Conservatorium Antwerpen), Godelieve Spiessens (musicólogo) e Albert R. Rice (musicólogo e clarinetista).
Em 2016, realizou a estreia mundial da Missa Maria Assumptæ, de Joannes Adamus Faber, obra barroca que contém o primeiro solo de clarinete da História da Música. A gravação foi recebida com entusiasmo pela crítica internacional da especialidade.
Na temporada de 2017-2018, a interpretação, por Terra Nova Collective, do Concerto para Clarinete, K. 622, de Wolfgang Amadeus Mozart trouxe nova luz à famosa obra. Pesou nisto, sobremaneira, o recurso a um clarinete histórico, datado da época em que aquele génio musical compôs a sua extraordinária peça.
Deveras significativa se revelou também, na trajetória do agrupamento, a apresentação, com a colaboração da Universiteit Antwerpen, de um ciclo de 14 concertos, dedicados a compositores menos conhecidos, mas de elevado interesse artístico e histórico, sob o sugestivo título de Trouvailles.
A tournée de 2018-2019 foi marcada por atuações em diversas salas de Nova Iorque e no Festival Musica Antiqua de Takamatsu, no Japão.
Em 2019, veio à luz do dia um CD duplo consagrado ao clarinetto d’mare, um instrumento esquecido da era mozartiana.
Outro dos feitos musicológicos levados a cabo por Terra Nova Collective ocorreu em 2020 e fez renascer o interesse, junto de um público alargado, pela vida e pela obra do notável compositor Joseph Ryelandt.

 

VLAD WEVERBERGH -Direção Musical
O foco da atividade artística de Vlad Weverbergh consiste na redescoberta e na interpretação das obras de compositores injustamente relegados ao esquecimento. Foi com este objetivo que fundou, em 2012, Terra Nova Collective, agrupamento cuja direção artística e musical assumiu desde então. Escolheu a dedo, para tal, os músicos do ensemble, no propósito de criar um grupo flexível, do ponto de vista da sua formação, mas capaz de embarcar, sem titubeios, na aventura da exploração de repertórios de certo modo únicos.
Formou-se no Koninklijk Conservatorium Antwerpen, em 2000, após estudar clarinete com Walter Boeykens. Terminados os estudos superiores, permaneceu na mesma escola, como professor convidado de Música de Câmara, até 2002. Atualmente, é professor de Clarinete nessa prestigiada instituição.
A sua fecunda e abrangente carreira como clarinetista tem-no levado a colaborar com diretores musicais e orquestras sinfónicas de diversos países, atuando regularmente não só na Bélgica, mas também na Áustria, na Hungria, na Roménia e na Alemanha.
É autor de uma discografia extensa, que contém a maioria das grandes obras para clarinete e uma série de gravações em estreia mundial. Possui também vasta experiência como produtor de gravações.

 

 



Comentários

pub