Presidente da Câmara de Mértola repudia proibição da caça à rola-comum anunciada pelo ICNF

Mértola é a capital da caça e Jorge Rosa fala em prejuízos avultados. ICNF apresenta estudos portugueses e europeus que mostram o declínio da espécie

O presidente da Câmara de Mértola diz que a proibição da caça à rola-comum, anunciada esta semana pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), “é mais um rombo à economia local e à economia social da caça”.

Jorge Rosa justifica a sua posição explicando que, “os caçadores de rola-comum já tinham agendado as suas caçadas nos coutos, já tinham adquirido comedouros, já tinham marcado alojamento e refeições e assumido compromissos com as zonas de caça que, por sua vez, também já tinham feito “imensas despesas” para receber os caçadores”.

O ICNF explicou que «as populações de rola-comum (Streptopelia turtur), espécie protegida no âmbito da Diretiva Aves, têm vindo a apresentar, ao longo dos anos, um decréscimo significativo», pelo que, nos últimos anos, Portugal, «em articulação com as Organizações do Setor da Caça e Organizações Não Governamentais de Ambiente, tem vindo a implementar medidas restritivas de caça a esta espécie, quer reduzindo os limites diários de abate, quer reduzindo drasticamente o número de dias de caça».

Este ano, finalmente, «os maiores países da UE abrangidos pela rota migratória ocidental proibiram a caça a esta espécie, estando assim cumprida a condição essencial para Portugal poder adotar também essa medida», acrescenta aquele Instituto.

Deste modo, «é adotada também em Portugal a medida de proteção temporária à rola-comum, através da proibição da sua caça na época venatória de 2021-2022».

No entanto, a decisão é contestada pelo autarca socialista por duas razões.

Em primeiro lugar, Jorge Rosa critica o timing da decisão, que foi anunciada aos caçadores por correio eletrónico a duas semanas da abertura de caça. Face aos prejuízos decorrentes desta decisão, Jorge Rosa entende que deverão ser garantidas compensações para as zonas de caça lesadas.

O ICNF, aliás, no comunicado em que anuncia a proibição da caça a essa espécie, revela ainda a intenção de atribuir apoios às zonas de caça atingidas pela medida. «Reconhecendo a importância que possui a exploração sustentável dos recursos cinegéticos, através da caça, enquanto fator de desenvolvimento regional e local, promotora da melhoria dos habitats e da valorização dos territórios, encontra-se a decorrer junto do ICNF um procedimento concursal ao abrigo do Fundo Florestal Permanente, com uma dotação de quatro milhões de euros, para a atribuição de apoios às entidades gestoras de zonas de caça com o objetivo de apoiar investimentos de melhoria e gestão dos habitats, uma vez que este é um fator essencial para a recuperação das espécies de fauna selvagem».

Mas Jorge Rosa não se conforma. Afirmando que “nunca se viu tantas rolas, em Portugal, como este ano”, o edil de Mértola, concelho onde a caça é um importante setor económico, questiona, ainda, “que estudo é esse que diz que a rola está em regressão?”. Na sua opinião, “o número de rolas abatidas”, em território nacional, “não têm nada a ver com a sustentabilidade da espécie”.

 

Apesar das dúvidas do autarca, o declínio da rola-comum a nível europeu, nomeadamente em Portugal, tem estado a ser monitorizado e estudado desde há vários anos.

O ICNF revela que «os estudos desenvolvidos ao nível da UE, em cooperação com os vários Estados Membros e organizações setoriais, conduziram ao desenvolvimento de um plano de ação internacional para a conservação da rola-comum, a implementar até 2028, bem como um modelo de gestão de caça adaptativa».

Os modelos subjacentes a estes estudos dão «indicações relativas às populações de rola-comum da rota migratória ocidental, que abrange Portugal», onde, «mesmo sem caça, há uma probabilidade significativa de se manter o declínio da espécie, declínio esse que aumenta em qualquer cenário que envolva a pressão adicional originada pela caça».

O ICNF acrescenta que «estas medidas preventivas de gestão adaptativa, iniciadas em Portugal, tiveram sempre presente que, para a questão ser abordada com a eficácia necessária, teriam de possuir uma abrangência supra nacional, uma vez que estamos perante populações de uma espécie migratória, entendimento este que foi defendido junto das autoridades comunitárias e dos restantes Estados Membros da UE».

Agora, tendo em conta a proibição da caça à rola-comum nos outros países europeus, surgiu a oportunidade de também em Portugal ela ser proibida.

O ICNF revela também que, «a nível nacional, encontra-se em fase final o lançamento dos trabalhos relativos ao “Plano de Recuperação e Conservação da Rola Comum”», preparado em conjunto com as Organizações do Setor da Caça e Organizações Não Governamentais de Ambiente e a academia, com apoio do Fundo Florestal Permanente no valor de cem mil euros». O objetivo é «aumentar o conhecimento sobre esta espécie e determinar quais as variáveis de gestão que atualmente impactam as suas populações, no sentido de encontrar medidas que permitam inverter o seu declínio».

 

 



Comentários

pub