Festival Terras sem Sombra leva música do Maneirismo e do Barroco a Alter do Chão

Fim de semana do Festival inclui ainda uma visita à Estação Arqueológica de Ferragial d’El Rei e uma ação de Biodiversidade dedicada ao Cavalo Lusitano

O Cineteatro de Alter do Chão recebe, no sábado, 26 de Junho, às 21h30, um concerto do agrupamento espanhol La Ritirata, com um programa dedicado à música de corte dos séculos XVI e XVII.

Trata-se de mais um fim de semana do Festival Terras sem Sombra, que inclui ainda uma visita à Estação Arqueológica de Ferragial d’El Rei, nos arredores de Alter, e uma ação de Biodiversidade dedicada ao Cavalo Lusitano, na Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão.

O programa do fim-de-semana Terras sem Sombra em Alter do Chão (26 e 27 de Junho) tem como destaque o concerto pelo La Ritirata. O ensemble espanhol apresenta-se no Cineteatro no sábado, às 21h30, em versão de trio, composto pelo violoncelista e diretor musical Josetxu Obregón, apoiado por Tamar Lalo, na flauta, e Daniel Zapico, na tiorba: três figuras de referência do panorama artístico europeu da atualidade.

La Ritirata propõe a redescoberta de peças que levam numa viagem sonora pelas cortes de Nápoles, Espanha e Portugal dos séculos XVI e XVII. O maestro Josetxu Obregó selecionou e recuperou algumas das mais emblemáticas e sublimes obras compostas na transição do Maneirismo para o Barroco por Andreas Falconieri, Diego Ortiz, Gaspar Sanz, Giuseppe Maria Jacchini, Domenico Gabrielli ou Bartolomé de Selma, entre outros.

O sugestivo título do programa – “Il Spiritillo Brando” – refere-se quer às danças palacianas do vice-reinado espanhol de Nápoles, onde Portugal também teve presença destacada, quer aos espíritos maliciosos, uma espécie de duendes, da tradição popular napolitana, que apresenta muitas semelhanças com os usos e costumes do Alentejo. Algo muito apropriado a uma terra dotada de pergaminhos musicais e que atesoura inúmeras preciosidades da arte barroca, como Alter do Chão.

Além do concerto, o programa do Festival Terras sem Sombra oferece mais dois momentos a não perder: as atividades de Património Cultural e as de Salvaguarda da Biodiversidade.

Assim, na tarde de sábado, dia 26 (15h00), realiza-se uma visita à Estação Arqueológica de Ferragial d’El Rei, um dos principais arqueossítios para o conhecimento da presença romana a sul do Tejo.

Das ruínas existentes neste notável ponto, destacam-se uma residência – a que foi dado o nome de Casa da Medusa –, termas e uma necrópole datada da Antiguidade Tardia. Trata-se de uma villa de Abelterium (Alter do Chão), junto a uma das três vias que ligavam Olisipo (Lisboa) à capital da Lusitânia, Augusta Emerita (Mérida).

As escavações levadas a cabo nas últimas décadas revelaram pinturas murais, pavimentos em mosaico e diversas esculturas de enorme qualidade artística e técnica, que serão apresentadas em detalhe numa visita guiada pelo arqueólogo Jorge António, profundo conhecedor do local.

No domingo de manhã (9h30), a ação de Salvaguarda da Biodiversidade – intitulada “Antigas Profissões, Novas Vocações: A Escola e o Mundo Rural” – tem lugar na Escola de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão, situada no espaço privilegiado da Coudelaria de Alter (Herdade da Tapada do Arneiro), perto da vila.

Aqui, serão dadas a conhecer atividades e práticas relacionadas com o mundo rural, nomeadamente, iniciativas sustentáveis relacionadas com a agricultura e a equitação, de modo a promover um espírito empreendedor, com especial atenção à conservação da biodiversidade.

Constituem exemplos disso a valorização do Puro-Sangue Lusitano – a principal raça equina autóctone do nosso país –, a criação de um efetivo pecuário ou, ainda, a manutenção de uma horta tradicional que, além de familiarizar os jovens com as espécies e variedades regionais, fornece produtos de qualidade à cantina escolar.

O fim-de-semana Terras sem Sombra em Alter do Chão oferece uma oportunidade único para se assistir a um concerto inédito por um ensemble que faz parte do escol da música antiga e tem atuado em principais palcos do mundo, levando-nos igualmente a (re)descobrir o património arqueológico do período romano no Alentejo e as práticas essenciais para a valorização do mundo rural.

Sob o mote “Através do Incêndio: Contingências, Expectativas e Superações na Música Ocidental (Séculos XVI-XXI)”, o Terras sem Sombra prosseguirá a 3 e 4 de Julho, em Arraiolos, com a presença do agrupamento belga Quatuor Alfama, num concerto intitulado “Voos sobre o Abismo: Haydn e Schubert”.

A 17ª temporada do Festival tem programadas atividades em Santiago do Cacém (17 e 18 de Julho), Castelo de Vide (31 de Julho e 1 de Agosto), Beja (7 e 8 de Agosto), Sines (21 e 22 de Agosto), Ferreira do Alentejo (4 e 5 de Setembro), Viana do Alentejo (11 e 12 de Setembro) e Odemira (18 e 19 de Setembro).

Parceiro do Grupo Vila Galé, o Festival Terras sem Sombra é uma temporada cultural que, em itinerância por diversos concelhos do Alentejo, propõe um programa que abarca a música erudita, o património e a salvaguarda da biodiversidade. Todas as atividades acontecem aos fins-de-semana e são de entrada livre e gratuita, sujeitas às regras sanitárias em vigor decorrentes da atual situação pandémica.

Promovido pela Associação Pedra Angular – entidade cultural e científica, sem fins lucrativos, fundada em 1996 –, o Festival é uma iniciativa da sociedade civil que visa dar a conhecer a um público alargado um território, o Alentejo, que sobressai pelos valores ambientais, culturais e paisagísticos e apresenta um dos melhores índices de preservação da Europa.

A valorização dos recursos patrimoniais e a sensibilização das comunidades locais para a sua salvaguarda e valorização são, assim, as grandes prioridades do Festival, que é uma estrutura financiada pela Direcção-Geral das Artes.

 

 

 



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