Indignação de Beijinha já serviu para pôr Santiago do Cacém e a Altice a falar

Autarca foi contactado por um representante da administração e já se deu início a um diálogo

Causaram «perplexidade» e foram uma «completa surpresa» para a Altice, mas as declarações «de indignação» de Álvaro Beijinha, por não conseguir dialogar com a empresa e apontando falhas ao serviço da antiga PT, já surtiram um efeito: as duas partes já estão a falar, disse ao Sul Informação o presidente da Câmara de Santiago do Cacém.

Depois de, no domingo, o edil alentejano ter vindo a público dar conta de problemas de falta de cobertura de rede em vários pontos do concelho, principalmente de internet, e de ter acusado a Altice de não se mostrar disponível para dialogar, apesar das tentativas feitas pelo executivo camarário, a empresa reagiu, considerando «injustas» as palavras do autarca.

É que alega a empresa, «a Altice Portugal tem mantido uma ligação permanente, não só com os municípios portugueses, mas também com as Freguesias e Uniões de freguesias e muito nos espanta que apenas o autarca de Santiago do Cacém não consiga esse contacto, sendo, que não descuramos a forma “estrondosa” como o transmitiu. Tal atitude não deixa de ter um qualquer objetivo subliminar com o qual não nos revemos».

«A experiência que nós temos tido, aqui em Santiago, não é essa», assegurou, no entanto, Álvaro Beijinha.

O autarca disse ao Sul Informação que «há cerca de um ano que nós tentamos, sem sucesso, falar com a administração da Altice».

A ideia era dar conta de vários problemas que já antes eram sentidos, mas que se tornaram mais graves «com o confinamento, que obrigou as pessoas a ficar em casa, com teletrabalho ou ensino à distância» e conseguir uma resposta para esta situação, que afeta os habitantes de vários núcleos urbanos do concelho.

«Tirando as cidades de Santiago e de Santo André, o resto do município, nas várias localidades urbanas que temos, que são várias dezenas, não há fibra e há uma dificuldade. Eu próprio tenho dificuldades em aceder à internet, no local onde vivo», revelou ao nosso jornal o presidente da Câmara de Santiago do Cacém.

«Foi nesse sentido que reiterámos o pedido. Houve vários contactos, mas não obtivemos resposta. Acabámos por fazer essa declaração pública de indignação porque entendemos que a Altice, sendo certo que é uma empresa privada, tem a responsabilidade de prestar um serviço público de comunicações», acrescentou.

A empresa sentiu-se, no entanto, injustiçada, e passou ao ataque.

Numa nota enviada ao Sul Informação, a Altice assegurou que, «ao longo dos últimos três anos, sem qualquer obrigação, bem como sem qualquer contributo ou intervenção por parte deste autarca, a Altice Portugal tem vindo a realizar investimentos de dezenas de milhões de euros neste concelho, com o objetivo de dotar este município de redes de excelência, capacitando a região para a transformação digital que se vive».

«Hoje, o concelho de Santiago do Cacém apresenta uma elevada percentagem de população, entre 78,2 e 99,9% com áreas cobertas por rede móvel (2G, 3G e 4G), estando ainda previsto, no projeto de expansão, o fortalecimento de infraestruturas de nova geração. Esta informação foi enviada num email de resposta diretamente ao presidente de Câmara de Santiago do Cacém no dia 12 de Março, pelo que, uma vez mais, estranhamos a forma desleal como o tema foi tratado por este autarca».

«Mais informamos que, só em 2020, o gabinete do presidente desta Autarquia recebeu duas comunicações via email onde constam diversos contactos da Altice Portugal para diferentes situações, pelo que bastaria utilizar um deles para que chegasse, de forma fácil e simples, ao contacto com a empresa. Mais, em jeito de complemento, só na semana passada esta empresa recebeu mais de cinco autarquias que nunca tiveram que utilizar o mediatismo ou demagogia para nos contactar», acusou a antiga PT.

Álvaro Beijinha admitiu ter recebido o email «com informação», mas explicou que aquilo que pretendia era «falar telefonicamente» com alguém com poder de decisão na Altice.

Quanto à alegada disponibilidade da empresa, diz que, pelo menos para o seu executivo, esta não tem existido, e dá um exemplo prático.

«Houve um episódio aqui há uns 3 ou 4 anos, em que nós tínhamos uma obra do Polis do Litoral, mas da qual a Câmara era parceira, a requalificação da praia na costa de Santo André, em que estavam lá uns postes com linhas aéreas que tinham de ser retirados. A obra ia ser inaugurada pelo ministro do Ambiente, estava tudo concluído e nós não conseguimos que fossem retirados. E eu queria falar com alguém e não consegui», contou.

«Na altura, falámos com a pessoa com a qual temos contacto, a nível operacional, aqui na nossa área e o que nos foi transmitido é que não tinham autorização para dar contactos da administração.
Houve, entretanto, casos parecidos com obras nossas. O que é certo, é que tem havido dificuldades», disse.

 

 

Entretanto, o caminho para ultrapassar este desentendimento já começou a ser trilhado, depois de um assessor da administração da Altice ter entrado em contacto com Álvaro Beijinha, «de alguma forma a mostrar-se estupefacto, a garantir que estiveram sempre disponíveis e que não compreendia, porque falam com todos os presidentes de Câmara».

No final, houve uma aproximação e promessa de diálogo futuro.

«Esta minha indignação, pelo menos, já surtiu efeito. Já conseguimos falar, já vamos fazer chegar, novamente, as nossas preocupações, relativamente aquilo que nós achamos que tem de ser melhorado, e também já houve o compromisso de se fazer uma reunião de trabalho para, então – e isso é que é o mais importante -, se encontrarem soluções», disse.

Quanto à forma pública como abordou a questão, que foi criticada pela Altice, Álvaro Beijinha justifica que falou «na defesa das populações, é para isso que eu fui eleito».

«E tendo em conta que as comunicações são um serviço público que, neste caso, foi concessionado a uma empresa privada, que é Altice, que tem obrigações, no âmbito da concessão, de o prestar, nós estamos a reivindicar que este seja um serviço de qualidade», disse.

Na nota enviada à nossa redação, a Altice elencou, ainda, alguns dos investimentos que estão previstos para Santiago do Cacém.

Por um lado, haverá o reforço de cobertura da rede móvel «com três novas estações base: duas estações na União das Freguesias de Santiago do Cacém, Santa Cruz e São Bartolomeu da Serra e uma estação para reforço de cobertura na Freguesia de Santo André».

«Já no que diz respeito a cobertura em fibra ótica, também na mesma comunicação informámos este autarca que está previsto, até ao final de 2021, mais investimento no concelho, nomeadamente, a disponibilização de rede nas zonas de Costa de Santo André, Faros dos Pinheiros, Aldeia de Brescos, Escatelares, Deixa-o-Resto e Faros de Zambujeira», elencou a Altice.

No que toca aos investimentos que estão previstos, «também é para saber o que está em cima da mesa que nos queremos reunir», diz o edil .

«Eventualmente, haverá outras zonas onde não está previsto investimento e que, provavelmente, são mais prioritárias. Eu acho que, mais do que ninguém, são as autarquias que percebem e conhecem os problemas, porque estão no terreno diariamente», acredita Álvaro Beijinha.

«Deviam falar connosco primeiro, para saber que problemas há e quais achamos que seriam as prioridades. Claro que há sempre que cruzar com questões técnicas. Mas são estas que eu quero compreender e que, até agora, não tive oportunidade», reforçou.

«Temos consciência que os problemas não se resolvem de uma vez só, nós aqui na Câmara também não o conseguimos fazer. Mas queremos discutir com quem tem essa incumbência – como fazemos, por exemplo, com a EDP», rematou o presidente da Câmara de Santiago do Cacém.

 

 

 

 



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