Três projetos artísticos com «impacto social» avançam no Algarve e Baixo Alentejo

A iniciativa PARTIS & Art for Change foi lançada em Janeiro deste ano pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação ”la Caixa”, destinando 1,5 milhões de euros ao apoio a projetos inovadores

Projeto de Madalena Victorino é um dos vencedores

Há três projetos artísticos, «com impacto social» e que envolvem o Algarve e o Baixo Alentejo, entre os 16 vencedores da primeira edição da iniciativa “Partis & Art for Change”, promovida pelas Fundações Calouste Gulbenkian e La Caixa.

Um dos vencedores é o “Bowing”, de Madalena Victorino, do Lavrar o Mar, com sede de Aljezur. Este projeto será implementado, porém, no vizinho concelho de Odemira, já no Alentejo, durante dois anos.

Bowing é um projeto de arte participativa em meio rural, dirigido a imigrantes homens e algumas mulheres oriundos de países orientais e de leste que se encontram a trabalhar no concelho de Odemira, na sua maioria em empresas multinacionais de agricultura intensiva, e aos seus filhos que estão em processo de integração nas escolas do concelho.

O trabalho artístico com os imigrantes (usando a dança, a música e o vídeo como linguagens centrais) ambiciona dignificar, valorizar e descobrir elementos intrínsecos às culturas estrangeiras com o objetivo de criar um terreno de partilha e de fusão de saberes, sensibilidades, e aspetos identitários com a cultura portuguesa.

Outro dos projetos algarvios vencedores é o “Mulheres da Horta da Areia e da Devir”, da autoria de José Laginha. Esta iniciativa, promovido pela DeVIR, Associação de Atividades Culturais, que durará três anos, vai juntar mulheres com condições e experiências de vida muitos diferentes, que têm em comum viverem numa mesma cidade: um grupo de mulheres de etnia cigana que vive num gueto da cidade de Faro, num bairro social altamente degradado, e outras mulheres residentes em diferentes zonas da cidade, com vontade de construir vidas mais completas e estimulantes.

Pretende-se, através de experiências artísticas e criativas, promover a reflexão sobre o que as divide e o que as une, física, cultural e socialmente numa esfera pessoal e coletiva/comunitária. Os espetáculos produzidos com os artistas convidados em cada ano serão apresentados no festival Encontros do DeVIR.

A outra iniciativa, que, além de Loulé, envolve as cidades de Lisboa, Porto, Cartaxo e Montemor-o-Novo, é a “Causa Maior”. O projeto, com duração de três anos, tem como objetivo conhecer e refletir sobre o valor social da Companhia Maior (composta por artistas com mais de 60 anos) com a intenção de demonstrar publicamente esse valor.

Esta demonstração representa uma ampliação das vozes das pessoas e do trabalho artístico e crítico da Companhia Maior e abre pistas para outras leituras e para outros lugares do envelhecimento, contribuindo para o debate de políticas públicas mais adequadas para a saúde e bem-estar dos idosos.

Os 16 projetos vencedores foram selecionados entre 132 candidaturas, num concurso que, além da grande abrangência territorial – com entidades apoiadas pela primeira vez em S. Miguel (Açores), Faro, Odemira, Viseu, Esposende, Braga e Guimarães –, é marcado ainda pela diversidade de comunidades-alvo e de disciplinas artísticas, que vão desde o teatro à música, passando pelas artes visuais, a dança e o multimédia.

Entre os mundos que se cruzam nestes projetos – há iniciativas com a coordenação artística de nomes de referência como Madalena Victorino, André Amálio, Filipa Francisco, Graeme Pulleyn ou Sofia de Portugal – encontram-se ainda um grupo de teatro que junta surdos e ouvintes, uma orquestra que integra crianças de três comunidades distintas na ilha de S. Miguel, um “Trampolim” para jovens com predisposição para as artes circenses e performativas, uma metodologia de interpretação teatral para cegos e pessoas de baixa visão, entre muitos outros.

Destaca-se também um interesse especial pelo tema do ambiente, com três projetos que cruzam as artes da terra, a natureza e as preocupações ambientais com as artes performativas, plásticas e visuais.

Todos os projetos terão entre 24 e 36 meses de duração, com arranque previsto para Janeiro do próximo ano.

A iniciativa PARTIS & Art for Change foi lançada em Janeiro deste ano pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação ”la Caixa”, destinando 1,5 milhões de euros ao apoio a projetos inovadores que demonstrem o papel que as artes visuais, performativas ou audiovisuais podem desempenhar nos percursos de integração de pessoas em situação de maior vulnerabilidade social e na construção de comunidades mais coesas.

A iniciativa PARTIS, da Fundação Calouste Gulbenkian, tem desde 2013 o propósito de apoiar projetos artísticos inovadores para promover a inclusão social. Ao longo de três edições, foram apoiados, com um total de três milhões de euros, 48 projetos. Nas duas primeiras edições, a iniciativa abrangeu cerca de 11.500 participantes, envolveu 651 organizações parceiras e resultou em quase 1000 apresentações públicas (espetáculos, instalações, exposições) que mobilizaram mais de 200 mil espetadores.

Já a iniciativa Art for Change foi lançada em 2008, em Espanha, pela Fundação ”la Caixa”, com o objetivo de apoiar projetos artísticos que promovessem a transformação social, tendo financiado até agora 383 projetos, no valor de cerca de cinco milhões de euros, abrangendo 59 mil participantes e envolvendo 170 entidades culturais e 308 artistas. A Fundação ”la Caixa” iniciou em 2018 a sua implantação em Portugal, consequência da entrada do BPI no CaixaBank.

 



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