Apesar das mudanças no mundo do trabalho, haverá sempre um conjunto de padrões comportamentais a nível profissional que permitem estabelecer políticas de gestão de recursos humanos mais adequadas a uma dada organização, inserida numa sociedade e cultura específicas.
Embora as crises provoquem alterações profundas, nem sempre os resultados são clara e prontamente visíveis. A nível empresarial ocorreram rápidas adaptações nas orientações estratégicas e na reorganização dos processos de trabalho, devido à pandemia e consequente confinamento obrigatório.
O desafio foi enorme, sem preparação prévia, pela criação de escritórios domésticos improvisados, em que o mundo profissional e pessoal se misturaram de forma caótica, criando uma nova (des)ordem na vida de cada um.
O teletrabalho, como forma específica de organização do trabalho, torna essencial a existência de uma comunicação adequada com a equipa a que se pertence e com as chefias; uma separação entre o trabalho e a vida familiar; a existência de caraterísticas pessoais específicas; e condições ergonómicas que promovam a saúde no trabalho.
Esta crise veio salientar outras questões de relevo ao nível da gestão de pessoas/recursos humanos, como por exemplo a importância da gestão emocional e o desenvolvimento de competências.
A gestão emocional das equipas pelo estabelecimento de relações de proximidade com os colaboradores, criando reuniões e eventos motivacionais pela utilização de diferentes meios. Repensar o desenvolvimento das competências pessoais e profissionais mais adequadas às necessidades da 4ª Revolução Industrial.
Perante um cenário de mudança e imprevisibilidade, o papel do Gestor de Pessoas/Recursos Humanos assumirá cada vez maior destaque, como verdadeiro parceiro na (re)definição estratégica do negócio, na gestão da crise e na definição ou reinvenção estratégica pós-crise, a qual só se concretiza com e pelas pessoas de uma organização.
Que neste momento de crise, que é também de oportunidades, possamos todos na área da gestão de pessoas ter uma visão mais nítida daquilo que nos diferencia, participando na mudança que urge concretizar.
Que saibamos utilizar a criatividade para sobreviver de forma adequada a todos os desafios que passaremos a ter de gerir, num mundo que se perspetiva cada vez mais imprevisível e desafiador de limites a todos os níveis da vida humana.
Que a maior digitalização da nossa sociedade e processos de trabalho seja orientada pelo discernimento da existência de algo inestimável, insubstituível e completamente diferenciador que é a relação humana.
Temos todos agora a oportunidade de pensar a recriação de uma sociedade pós-pandémica verdadeiramente promotora de maior qualidade de vida, bem-estar e realização pessoal e profissional, na qual as empresas sejam os verdadeiros agentes dessa mudança.
Conscientes que uma sociedade voltada para a promoção do bem de cada pessoa, estará a cultivar o maior progresso civilizacional em prol de todos.
Autor: Carla Gomes da Costa – Diretora da Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos, do ISMAT, Portimão