Abutre-preto consolida a sua recuperação no Alentejo

Este é o sexto ano consecutivo em que o abutre-preto cria com sucesso na Herdade da Contenda e mantém ou aumenta o número de casais nidificantes

Chaparrito no ninho, nascido este ano na Herdade da Contenda – Foto: Carlos Pacheco

Em 2020, nidificaram dez casais de abutre-preto no sudeste do Alentejo, na Herdade da Contenda (Moura), tendo-se assim consolidado o seu restabelecimento na região. Este número representa atualmente cerca de um terço dos casais existentes em Portugal. Três destes casais conseguiram criar com sucesso, dando deste modo continuidade à recuperação desta ave no Sul do país.

Os dados foram revelados pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN), que tem coordenado um projeto LIFE para a recuperação do abutre-preto, a espécie de abutre mais ameaçada de Portugal.

Este sábado, por ser o primeiro do mês de Setembro, celebra-se precisamente o Dia Internacional dos Abutres. Nesta efeméride, por todo o mundo, comemora-se a importância da conservação destas aves, vitais para os ecossistemas, e alerta-se a sociedade para as sérias ameaças que as mesmas enfrentam.

A LPN e a Herdade da Contenda celebram esta data fazendo o balanço de mais uma época de reprodução do abutre-preto, no sudeste do Alentejo.

A monitorização efetuada pela LPN, em colaboração com a Herdade da Contenda, Empresa Municipal e com o acompanhamento do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), confirmou este ano a existência de dez casais nidificantes de abutre-preto nesta herdade, no concelho de Moura, três em ninhos artificiais anteriormente instalados pelo projeto LIFE “Habitat Lince Abutre” e sete em ninhos naturais.

Oito desses casais conseguiram fazer postura de um ovo (como é característico da espécie), dos quais nasceram seis crias.

Embora três destas crias não tenham sobrevivido (uma delas devido a queda do ninho e as outras por causas desconhecidas, provavelmente devido ao calor extremo durante o seu desenvolvimento), três, todos machos, ultrapassaram já os três meses de idade, estando nesta fase prestes a deixar os seus ninhos com sucesso.

Um destes jovens abutres foi batizado de Chaparrito, num processo de votação online bastante concorrido (com mais de 200 participações).

«Estes resultados, embora representem mais um passo no sentido da tão desejada e efetiva recuperação da espécie no Alentejo e em Portugal, revelam a necessidade de dar continuidade aos esforços de conservação dirigidos ao abutre-preto, de forma a aumentar a sobrevivência e sucesso na reprodução», sublinha a LPN.

Em particular, a Liga salienta a «necessidade de um acompanhamento mais próximo da reprodução e a intervenção em períodos críticos do desenvolvimento das crias, nomeadamente durante os picos de calor e de escassez de alimento».

 

Os abutres são extremamente importantes para manter a sanidade dos ecossistemas, estando no entanto em risco de extinção em Portugal e sujeitos a diversas ameaças à sua sobrevivência, a maioria de origem humana, de onde se destacam o envenenamento e a escassez de alimento.

Também a utilização do diclofenac (um anti-inflamatório não esteroide) para o tratamento do gado representa um enorme risco para estas aves necrófagas no nosso país, estando ainda, após vários anos, o Estado Português a avaliar a autorização do seu uso na pecuária.

Nos últimos anos, a monitorização da reprodução do abutre-preto e as medidas de conservação dirigidas a esta espécie na região foram realizadas no âmbito do projeto Orniturismo – Conservação, Proteção e Valorização do Património Ornitológico.

A LPN e a Herdade da Contenda são dois dos parceiros deste projeto, que tem por objetivo geral conservar, proteger e valorizar o Património Ornitológico presente na região transfronteiriça Alentejo-Andaluzia, com a finalidade de desenvolver e consolidar modelos de atividades turísticas sustentáveis, que possam contribuir para o reforço da economia de ambas as
regiões.

Desde que, em 2015, a espécie voltou a reproduzir-se na região, após mais de 40 anos sem registo de reprodução a sul do rio Tejo, este é o sexto ano consecutivo em que o abutre-preto cria com sucesso na Herdade da Contenda e mantém ou aumenta o respetivo número de casais nidificantes.

«Tal tem sido possível, sobretudo, em consequência dos esforços de conservação desenvolvidos pela LPN em colaboração com a Herdade da Contenda, beneficiando da importante e adequada gestão deste território propriedade do município de Moura», conclui a Liga para a Protecção da Natureza.

 

 

 

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