Investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMar) do Algarve lideraram um estudo internacional que determinou que as comunidades microbianas «são as primeiras a reagir às alterações ambientais» e por isso, no futuro, «podem ser utilizadas como potenciais indicadores da degradação ambiental e pontos de rutura das condições ecológicas de recifes» da Grande Barreira de Corais.
Os cientistas do centro de investigação algarvio, associado à Universidade do Algarve, colaboraram com investigadores das Universidades James Cook e de Queensland, Austrália, e com o Instituto Australiano de Ciência Marinha, num projeto promovido pelo Programa Nacional de Ciência Ambiental da Austrália sobre
«Os recifes de coral estão sujeitos a uma pressão antropogénica crescente, que conduz à degradação global destes ecossistemas. Vários estudos têm mostrado que para além do efeito global e devastador do aumento da temperatura da água do mar, pressões locais como a sobrepesca, o declínio da qualidade da água e o aparecimento de estrelas-do-mar-coroa-de-espinhos que se alimentam de corais, estão a provocar o declínio das condições destes ecossistemas, globalmente, e em particular na Grande Barreira de Coral Australiana», segundo o CCMar.
No estudo recentemente publicado e liderado por Pedro Frade, investigador do CCMAR, em colaboração com investigadores australianos, «foi estudada uma das comunidades menos bem compreendidas: o plâncton bacteriano das águas da Grande Barreira de Coral e o seu papel na saúde dos recifes de coral».
«Os microrganismos são fundamentais para o ciclo biogeoquímico das águas dos recifes de coral e para a saúde de todos os animais marinhos, porém a sua contribuição para o funcionamento e sobrevivência dos recifes ainda é pouco conhecida. De modo a compreender este funcionamento, os investigadores analisaram a composição das comunidades microbianas existentes nas águas superficiais da Grande Barreira de Coral e identificaram grupos de microrganismos caraterísticos de diferentes tipos de recife (por exemplo, recifes costeiros versus recifes mais oceânicos) e diagnósticos de diferentes condições (por exemplo, ao longo de gradientes de nutrientes)», explicou o centro de investigação.
O estudo mostra que as comunidades microbianas nas águas superficiais da Grande Barreira de Coral «estão fortemente relacionadas com as condições predominantes à sua volta (como por exemplo a temperatura)».
Pedro Frade explica que «este elevado grau de previsibilidade das comunidades microbianas e o seu envolvimento na saúde dos corais,permite-nos, no futuro, poder usar os micróbios como indicadores que antecipam a deterioração (ou recuperação) da saúde do ecossistema do recife de coral».
O estabelecimento de uma rede de observatórios microbianos na Grande Barreira de Coral irá ajudar a monitorizar os recifes de coral, utilizando microrganismos para determinar as ameaças a estes ecossistemas.
Pedro Frade afirma que no futuro este estudo «pode levar à criação de um conjunto de ferramentas microbianas que permitam a monitorização em tempo real da saúde dos ecossistemas de recifes de coral na Grande Barreira de Coral e noutras partes do mundo, contribuindo assim para a conservação destes ecossistemas marinhos já seriamente ameaçados pelas alterações climáticas globais».