Incêndio no coração da Reserva da Biosfera causa «graves consequências humanas e biofísicas»

Prejuízos a nível biofísico e nas estruturas do Centro de Educação de Vale Gonçalinho ainda estão a ser avaliados

Incêndio no Vale Gonçalinho – Foto: Rita Alcazar | LPN

As crias de abetarda deste ano, ainda não voadoras, mamíferos que se deslocam devagar, como o ouriço-cacheiro, ou outros animais, como répteis e anfíbios, poderão ter morrido ontem, no fogo que varreu 2100 hectares de pastagens naturais e searas situadas no coração da Reserva da Biosfera de Castro Verde.

Quem o diz é Rita Alcazar, bióloga e responsável pelo Centro de Educação Ambiental de Vale Gonçalinho, situado nos arredores de Castro Verde, que lamenta as «graves consequências humanas e biofísicas» do incêndio.

O fogo, acrescenta aquela responsável, afetou 3,5% da área da Reserva da Biosfera, fustigando várias propriedades agrícolas, incluindo algumas que constituem a zona núcleo desta Reserva. Entre elas, a Herdade do Vale Gonçalinho, pertença da Liga para a Proteção da Natureza, que ardeu parcialmente, mas onde foi possível salvaguardar o Centro de Educação Ambiental.

Em declarações ao Sul Informação, Rita Alcazar disse que, no Vale Gonçalinho, «mais de metade da área ardeu», tendo ainda sido queimadas largas centenas de metros de vedações.

«O fogo esteve junto a uma das paredes de nidificação», mas «não a afetou muito». No entanto, o abrigo fotográfico que fica aí perto, «como era de madeira, ardeu todo».

O monte onde funciona a receção e auditório do Centro de Educação Ambiental de Vale Gonçalinho foi poupado, assim como o gado que pastava na herdade, «que conseguimos recolher a tempo».

«Ainda estamos a quantificar os prejuízos, mas foram avultados». Rita Alcazar espera, sobretudo, que não tenham sido muito grandes em termos de avifauna e biodiversidade.

 

Incêndio em Castro Verde – Foto: Artur Lagartinho

A bióloga recordou que o incêndio começou no limite do concelho de Castro Verde com o vizinho concelho de Aljustrel. «Foi uma língua de fogo, que desceu desde o Carregueiro, passou o IP2 e dirigiu-se a Galeguinha».

Além de pastagens, searas, vedações, o fogo destruiu também uma zona de matos, junto à Ribeira de Cobres.

«Estes são fogos muito rápidos, que avançam pelo restolho e searas. Isto arde tudo muito depressa». E o que valeu foi que, apesar de tudo, «o vento nem estava muito forte».

A responsável pelo Centro de Educação Ambiental faz questão de lamentar os ferimentos sofridos pelos bombeiros durante o combate às chamas, nomeadamente «os ferimentos graves em dois bombeiros da Corporação de Cuba, a quem desejamos votos de uma plena recuperação, dando todo o nosso apoio às famílias e a toda a corporação de bombeiros».

Em nome da LPN, agradece «a todos os elementos dos Bombeiros, da Proteção Civil e aos agricultores que estiveram envolvidos no combate ao fogo e que conseguiram evitar uma maior propagação do incêndio», com as suas máquinas.

 

Incêndio no Vale Gonçalinho – Foto: Rita Alcazar | LPN

Esta terça-feira, António José Brito, presidente da Câmara de Castro Verde, já tinha também salientado que se está «perante uma situação muito grave, que acarreta consequências bastante negativas, no habitat privilegiado da avifauna e nas explorações cerealíferas do nosso concelho, com enormes prejuízos em várias explorações agrícolas que ficaram gravemente atingidas».

Face a esta situação, acrescentou o autarca, «a Câmara Municipal irá acompanhar, com a maior proximidade, a evolução de todo quadro de consequências, em conjunto com a Associação de Agricultores do Campo Branco e a LPN – Liga para a Proteção da Natureza, de modo a criar as melhores soluções para minimizar os graves prejuízos agora sofridos».

Segundo a avaliação feita pelo engenheiro florestal Artur Lagartinho, «o fogo estendeu-se numa faixa no sentido Noroeste-Sudeste, com cerca de dois quilómetros de largura e 12 de extensão, entre a Herdade dos Longos e o Monte da Apariça».

As áreas afetadas terão sido, na parte ou em todo, a Herdade dos Longos, Monte da Chaminé, Lagoa da Mó (atravessamento da EN2), Monte do Torrejão, Monte do Tacanho (atravessamento do IP2), Vale Gonçalo, Vale Gonçalinho, Monte Novo do Ronceiro, Monte do Ronceiro, Monte dos Merendeiros, Azenha dos Merendeiros, Monte Bernardo e Apariça.

Ao contrário do que chegou a ser noticiado, «o fogo não passou para sul da estrada N123, nem atravessou qualquer outra estrada asfaltada em direção a Santa Bárbara de Padões. Também não chegou à pequena povoação de Galeguinha, tendo sido controlado a cerca de um quilómetro de distância», acrescenta aquele especialista.

 

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