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Investigadores da Universidade de Bangor, no País de Gales, revelaram como as crianças e os adultos veem de forma diferente as interações sociais, num artigo publicado numa conceituada revista científica em Abril deste ano.

Os resultados demonstram como o cérebro processa comportamentos sociais complexos, o que poderá ajudar a compreender a esquizofrenia e os transtornos do espectro autista.

A equipa levou a cabo um estudo com 29 adultos e 31 crianças entre os 6 e os 12 anos, que se focou numa zona do cérebro designada sulco temporal superior (STS), conhecida por desempenhar funções relacionadas com a socialização tais como o reconhecimento de faces ou de movimento corporal.

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A experiência foi feita com recurso a ressonância magnética funcional, que permitiu visualizar intensidade da resposta de algumas zonas do cérebro quando apresentados estímulos visuais aos participantes.

Os resultados demonstram diferenças significativas na resposta do sulco temporal superior (STS) entre adultos e crianças. Embora existam diferenças em ambos os hemisférios, estas são muito mais significativas no hemisfério esquerdo.

“A distinção entre os dois hemisférios leva-nos a crer que o STS ainda se encontra em desenvolvimento nas crianças. A sua capacidade de reconhecer interações sociais não está completamente desenvolvida”, esclarece Jon Walbrin, investigador responsável pelo estudo, agora a trabalhar na Universidade de Coimbra.

A maturação desta área parece ocorrer primeiro no hemisfério direito, pelo que apenas nos adultos a resposta do STS é forte em ambos os hemisférios. “Estudar o desenvolvimento de áreas intimamente relacionadas com a perceção de sinais sociais poderá ser particularmente útil no estudo de doenças relacionadas com a cognição social, tais como a esquizofrenia ou transtornos do espectro autista”, refere o autor do estudo.

Este estudo pretendeu ver quão responsivo é o STS a interações sociais. Para isso os participantes visualizaram imagens de padrões constituídos por pontos enquanto estavam dentro da ressonância magnética. Um dos estímulos consistiu na interação entre duas figuras humanas e no outro as figuras não interagiam entre si. A seletividade do STS para interações sociais foi medida pela diferença de respostas entre o primeiro e o segundo estímulo, ou seja, quanto é que o STS respondia em específico para as interações sociais.

Quando se analisaram os resultados mais a fundo, a equipa percebeu que havia também diferenças significativas entre o grupo de crianças. “Demonstramos ainda que as crianças mais velhas (9-11) apresentam uma seletividade semelhante à dos adultos no hemisfério direito. As crianças mais novas, no entanto, apresentavam uma resposta a interações mais fraca”, refere Jon Walbrin.

Os resultados do hemisfério esquerdo sugerem que a seletividade do STS aumenta com a idade, apoiando ainda mais a hipótese da maturação incompleta em crianças. “O contexto das interações sociais varia muito de cultura para cultura. Faz sentido que esta capacidade de as perceber não seja apenas inata, mas que seja também moldada pelas nossas experiências e pelo contexto onde vivemos”, continua.

Sobre os próximos passos, o investigador diz que seria importante “replicar este estudo para todas as faixas etárias e alargar o estudo a outras áreas do cérebro que sabemos que também podem ter um papel importante na perceção de interações sociais“, finaliza.

 

Autor: Daniel Ribeiro é biólogo pela Universidade do Minho e mestre em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova de Lisboa. Já desempenhou funções enquanto Comunicador de Ciência no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no Porto, bem como no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. Atualmente integra a equipa de comunicação do Proaction Laboratory, um laboratório de de investigação em Psicologia/Neurociências da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, focado na perceção e reconhecimento de objetos e ações.

 

 




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