Campanha «Agroambientais sem Glifosato/Herbicidas» lançada hoje no Esporão

«Existem soluções eficazes para os problemas atuais», salienta a Plataforma Transgénicos Fora

A campanha «Agroambientais sem Glifosato/Herbicidas» é lançada esta segunda-feira na Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, no mesma data em que se assinala também o Dia Mundial das Leguminosas, pela sua importância na mitigação das alterações climática e na cobertura dos solos.

A campanha é promovida pela Plataforma Transgénicos Fora, que envolve Organizações Não Governamentais de Ambiente como a Quercus, a Liga para a Proteção da Natureza, a Zero, entre muitas outras.

Os promotores escolheram a Herdade do Esporão para apresentar a campanha por considerarem a empresa como «um exemplo em Portugal», devido ao seu percurso na mudança de práticas agrícolas.

«A excessiva utilização de herbicidas, em particular do glifosato, é uma das más práticas agrícolas que se instalou no país, o que reduz o contributo das ervas na fixação de carbono no solo e para evitar a sua erosão, ao mesmo tempo que polui o solo, a água, os alimentos, as pessoas… e deixaram de se fazer as antigas mas muito necessárias práticas de adubação verde ou enrelvamento (cover crops), mesmo nas culturas permanentes arbóreas onde é mais fácil de o fazer», explica a Plataforma.

Em Portugal, há ainda a agravante de que a aplicação de herbicidas em geral e de glifosato em particular, «terem subsídios agroambientais, ainda que indiretamente, pelas medidas da “produção integrada” ou da “sementeira direta”, em clara contradição com os objetivos ambientais destas medidas», acrescentam.

No entanto, salienta a Plataforma, «existem soluções eficazes para os problemas atuais. Basta aplicá-las em larga escala para evitar e/ou superar os erros já cometidos».

«Veja-se o caso das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) responsáveis pelas alterações climáticas. Fala-se da urgência de reduzir, a todo o custo, as emissões para travar este flagelo, mas ninguém fala da possibilidade de o reverter através da agricultura».

A Plataforma acrescenta que «estamos finalmente perante um discurso político, a nível europeu e nacional, que coloca a preservação do ambiente no topo das prioridades. Mas as palavras só por si são insuficientes. Se queremos concretizar as mudanças preconizadas é necessário que a palavra e a ação estejam em sincronia, fechando o hiato que as tem separado e gerado o desconcerto do mundo. É esse o apelo e o contributo da Plataforma Transgénicos Fora (PTF) através desta campanha».

Em Portugal, tal como na Europa, «os solos agrícolas são cada vez mais pobres em matéria orgânica, não conseguem sequestrar o carbono (retirada de CO2 da atmosfera e armazenamento nas plantas e no solo) e, por isso, há um balanço negativo entre as emissões de GEE e a fixação de carbono».

A perda de carbono ocorre também quando há erosão do solo, «problema grave entre nós, com mais de 30% dos solos de Portugal continental degradados e mais de 60% em risco de desertificação».

E o excesso de lavouras (mobilização) também não ajuda, seja pela maior mineralização do carbono orgânico do solo, seja pelo aumento do risco de erosão. As queimas e as queimadas também transformam carbono orgânico em CO2 e por isso devem ser substituídas pelo destroçamento das ramagens deixando-as no solo (mulching), ou pelo pastoreio.

Ora estes são «problemas com soluções conhecidas», salientam os promotores da campanha. «Sabe-se que o aumento de 1% de matéria orgânica (húmus) no solo equivale a cerca de 30 toneladas de carbono sequestrado o que, com boas práticas agrícolas, pode ser conseguido em 10 anos. No caso de abarcar toda a superfície agrícola utilizada nacional (cerca de 3.5 milhões de hectares), é possível fixar cerca de 105 milhões de toneladas de carbono».

Além de a aplicação de herbicidas ser excluída dos subsídios pelas medidas agroambientais, a campanha tem como objetivos «alargar o leque destas medidas para a redução de outros pesticidas, e promover a biodiversidade, envolvendo toda a sociedade portuguesa uma vez que a agricultura é uma atividade basilar que toca a todos».

Nesta fase em que se prepara o Novo Quadro Comunitário de Apoio (2021-2028), a Plataforma Transgénicos Fora expõe esta contradição propondo um conjunto de medidas para evitar a sua repetição (em anexo) e divulga o “Guia de boas práticas agrícolas para reduzir emissões, fixar carbono e eliminar a aplicação de herbicidas” da autoria do engenheiro agrónomo Jorge Ferreira.

A empresa Esporão tem um percurso na mudança de práticas agrícolas que constitui um exemplo a assinalar no nosso país. Com cerca de 702 hectares de vinha, olival, pomar e horta abandonou o uso de glifosato e de qualquer tipo de herbicidas por volta de 2010. Iniciou nessa altura a conversão para a agricultura biológica tendo obtido a certificação do azeite e do vinho, ambos já no mercado nacional e internacional.

A Plataforma Transgénicos Fora é uma estrutura composta por voluntários oferecem o seu tempo para uma luta que é de todos. São estas as entidades não-governamentais da área do ambiente e agricultura que apoiam o trabalho da Plataforma: AEPGA, Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino; Campo Aberto, Associação de Defesa do Ambiente; CNA, Confederação Nacional da Agricultura; CPADA, Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente; GAIA, Grupo de Ação e Intervenção Ambiental; GEOTA, Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente; LPN, Liga para a Proteção da Natureza; MPI, Movimento Pró-Informação para a Cidadania e Ambiente; PALOMBAR, Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural; QUERCUS, Associação Nacional de Conservação da Natureza e ZERO, Associação Sistema Terrestre Sustentável.

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