Terras sem Sombra propõe Encontro ibérico em Barrancos

Concerto acompanhado por património imaterial e biodiversidade são os ingredientes de mais um fim de semana Terras sem Sombra

Um encontro Ibérico é a proposta Terras sem Sombra para 1 e 2 de Fevereiro, em Barrancos. O programa começa com uma atividade dedicada ao barranquenho, segue-se um concerto pelo violoncelista espanhol Pedro Bonet, vencedor do Prémio Intercentros Melómano 2019, e encerra com uma ação de salvaguarda da biodiversidade, nas margens do rio Ardila.

O segundo fim-de-semana do Festival Terras sem Sombra (1 e 2 de Fevereiro) vai ter como cenário o concelho alentejano de Barrancos.

As atividades programadas de música, património e biodiversidade abarcam aspetos da herança material e imaterial – em que transparece o marcado cunho ibérico – e que ajudam a desvelar algumas singularidades daquela região da raia, vizinha da Andaluzia e da Extremadura.

O programa de música, que terá lugar no Cineteatro de Barrancos (1 de Fevereiro, 21h30), propõe um concerto pelo violoncelista espanhol Pedro Bonet.

Segundo o director artístico do Festival, Juan Ángel Vela del Campo, o espetáculo em Barrancos assume especial significado pois “representa o início da colaboração, alvo de protocolo entre o Terras sem Sombra e a Fundación Orfeo, com o Prémio Intercentros Melómano”.

Este galardão, o mais importante de Espanha, distingue um jovem intérprete que se tenha distinguido anualmente pela excelência técnica e pelo virtuosismo interpretativo e é fortemente disputado por todos os conservatórios e escolas de música do país vizinho.

O repertório escolhido contempla obras-primas para violoncelo solista de Johann Sebastian Bach, Gaspar Cassadó, Gyorgy Ligeti e Witold Lutoslawski.

Vela del Campo define-o como “belo e subtil, uma síntese enriquecedora”. Como sublinha o próprio Pedro Bonet, “o violoncelo é o instrumento que, pela tessitura, mais se assemelha ao timbre da voz humana – já houve quem o comparasse a um tenor –, o que faz com que as suas possibilidades expressivas sejam praticamente infinitas”.

“No recital que elaborei para esta edição do Festival Terras sem Sombra, interpreto obras que, tanto pela vida dos seus autores como pelo que representam em si mesmas, perscrutam essas possibilidades expressivas com uma mestria à altura da sua estrutura compositiva”, conclui o músico.

 

Aprender a falar barranquenho

Como sempre acontece no Terras sem Sombra, a programação do fim de semana começa com uma atividade dedicada ao Património. Assim, às 15h00 de dia 1 de Fevereiro, sábado, os participantes vão descobrir essa “Ponte entre Línguas e Culturas: O Barranquenho”.

Língua – não oficial – da zona de Barrancos, onde se incluem a vila com o mesmo nome e algumas povoações próximas, o barranquenho conta com, aproximadamente, 3000 falantes. É filho da sua posição raiana, onde a influência das variedades meridionais do castelhano se faz sentir.

Uma das principais características consiste na remoção do l e do s e do r no fim das palavras, fenómeno bem andaluz. O s, quando corta a palavra, aspira-se. Ainda na mesma área de influência, há a queda do d nas últimas sílabas quando entre vogais, e o j, tal como o ge, passam por vezes para o lado castelhano, usando-se nestes casos o x, tal como o v se ouve como b. O e, quando no final da palavra, diz-se i, condição que ultrapassa o âmbito local e está normalmente associada à pronúncia alentejana.

Também o género de certos substantivos muda, como no castelhano; e os pronomes seguem a tradição do lado de lá da fronteira, antecedendo o verbo em vários casos – “vou-me” passa a “me bô”. Não há, todavia, um conjunto de regras que permitam definir o barranquenho em termos absolutos, até por ele se transmitir quase exclusivamente pela forma oral, o que acaba por torná-lo mais rico enquanto falar popular. Confuso? nada como ir até Barrancos e ouvir falar barranquenho.

 

“Quando a Fronteira Une: O Rio Ardila”

No domingo, dia 2, de manhã, a partir das 9h30, terá lugar a ação de salvaguarda da biodiversidade, desta vez denominada “Quando a Fronteira Une: O Rio Ardila”.

Rio internacional, o Ardila nasce em Espanha, na serra de Tentúdia, a 1100 metros de altitude, cruza transversalmente a província de Badajoz e desagua na margem esquerda do Guadiana, perto de Moura, a uma cota de 95 metros.

Na sua bacia, com uma área de 1043 quilómetros quadrados, destacam-se dois afluentes, o arroio de Benferre, em solo espanhol, e a ribeira de Murtega, já em Portugal. Ao passar junto a Noudar, em Barrancos, faz vários meandros, um dos quais designado Volta do Mango.

Sendo fronteira com Espanha, esta área foi cenário de muitas histórias, nomeadamente as relacionadas com o contrabando. As margens guardam uma flora abundante, incluindo espécies únicas para Portugal, como o Geranium malviflorum, cuja presença em Noudar é surpreendente, devido ao afastamento geográfico entre a pequena colónia aqui existente e as populações mais próximas em Espanha, a cerca de 160 quilómetros. Não se revela menos rica a avifauna, com destaque para o guarda-rios, a garça-cinzenta, a cegonha-preta, a águia-imperial e o grifo.

 

CONCERTO | BARRANCOS
1 de Fevereiro, 21h30
“Coreografar o Inefável: Obras-Primas para Violoncelo Solo”

Programa

JOHANN SEBASTIAN BACH [1685-1750] Suíte para Violoncelo Solo n.º 3 (BWV 1009) I. Preludio II. Allemande III. Courante IV. Sarabande V. Bourrée I VI. Bourrée II VII. Gigue

GASPAR CASSADÓ [1897-1966] Suíte para Violoncelo Solo I. Preludio-Fantasia II. Zarabanda-Sardana III. Intermezzo e Danza Finale

GYÖRGY LIGETI [1923-2006] Sonata para Violoncelo Solo I. Dialogo II. Capriccio

WITOLD LUTOSŁAWSKI [1913-1994] Variações Sacher para Violoncelo Solo

 

Colaborações e apoios:

PATRIMÓNIO | BARRANCOS
1 de Fevereiro, 15h00
“Ponte entre Línguas e Culturas: O Barranquenho”
COLABORAÇÃO: Município de Barrancos
APOIO: Junta de Freguesia de Barrancos
FORMADORES: Maria Victoria Navas, Carla Pica e Dalila Lopes

SALVAGUARDA DA BIODIVERSIDADE | BARRANCOS
2 de Fevereiro, 9h30
“Quando a Fronteira Une: O Rio Ardila”
COLABORAÇÃO: EDIA – Empresa de Infraestruturas e Desenvolvimento do Alqueva
APOIO: Município de Barrancos
GUIAS: Diogo Nascimento (engenheiro florestal), Débora Moraes e José Perdigão (técnicos de Património)

 

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