O ponto de partida será a realidade atual para, a partir dela, se viajar à boleia de 6 mil anos de história, repleta de lugares, objetos, pessoas e tradições. “Com os pés na terra e as mãos no mar” é o nome da grande exposição que vai mostrar o passado e o presente de Quarteira, a ser inaugurada a 13 de Maio de 2021, no edifício da antiga lota.
Até lá, há um grande trabalho (ainda) a ser feito, mas as linhas gerais estão definidas. A conceção de uma exposição desta dimensão, que foi revelada em primeira mão pelo Sul Informação, envolve três entidades: Câmara de Loulé, Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e Direção Regional de Cultura do Algarve.
Foram elas que se juntaram esta terça-feira, 14 de Janeiro, em Loulé, para assinar protocolos de colaboração para a preparação da mostra e ainda para visitar as novas reservas do Museu de Loulé.
Da parte da autarquia, serão assegurados todos os custos inerentes, com o lançamento de procedimentos concursais. Uma das ideias, por exemplo, passa por reabilitar o edifício da antiga lota, no Largo das Cortes Reais, perto dos mercados da fruta e do peixe.
A Direção-Geral do Património Cultural, por sua vez, garante a cedência de peças que estejam noutros pontos do país, como o Museu Nacional de Arqueologia.

Direção Regional de Cultura do Algarve e DGPC vão também colaborar na difusão da exposição. É da Direção Regional de Cultura que vem, inclusive, o coordenador científico desta mostra: Rui Parreira, diretor de Serviços de Bens Culturais.
Foi ele quem explicou, ao Sul Informação, a grande ideia inerente a “Com os pés na terra e as mãos no mar”.
«A exposição ainda está a ser pensada, mas há algumas linhas que já foram definidas, como procurar as identidades de Quarteira, através de uma viagem ao passado. O que queremos é partir do presente daquela cidade, com as suas comunidades, tradições e diferenças, e fazer uma viagem ao passado», disse.
Nessa viagem, cabe «o mais antigo assentamento humano estável, descoberto ao pé da praia de Loulé Velho», as ligações entre a terra e o mar, com as comunidades de pescadores, pastores, agricultores e caçadores, ou as histórias ligadas à antiga várzea de Quarteira, onde se fizeram as primeiras plantações de cana de açúcar do Algarve, o que trouxe escravos para a região.
Em toda a mostra, a «arqueologia terá um lugar central». De resto, na freguesia de Quarteira há, por exemplo, as ruínas do Cerro da Vila (Vilamoura), as escavações de Loulé Velho ou a Fonte Santa, apenas para citar três locais de interesse histórico-cultural.
Certo é que a ideia passa por «abranger todos os patrimónios, desde o material, imaterial, os objetos, os sítios e territórios. No fundo, tudo o que levou a que Quarteira seja o que é hoje. Isso obriga-nos, naturalmente, a refletir também sobre o futuro da cidade», considerou Rui Parreira.

Apesar desse passado riquíssimo, a verdade é que, nas últimas décadas, Quarteira ficou muito arreigada apenas e só ao turismo.
Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, relembrou precisamente esse facto, fazendo referência a Isidoro Correia, um quarteirense que sempre se bateu pela necessidade de preservar a história da sua cidade.
«Hoje em dia, quando falamos de turismo, temos de pensar também no património. Os turistas cada vez mais valorizam a identidade e esta exposição destina-se também a isso. A mostra é um projeto ambicioso, mas rico», disse.
E não se fará nada sem a colaboração dos locais: os quarteirenses, que conhecem como ninguém a história da sua cidade. Para o efeito, serão realizadas sessões com a população.
Não é de admirar, por isso, que Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, considere que esta exposição será «importantíssima».
«Estamos a falar de 6 mil anos! Há sempre uma grande expetativa da população. Esta é uma terra turística, mas as pessoas procuram, cada vez mais, o que é local – a tal identidade», considerou, aos jornalistas.

Adriana Freire Nogueira, diretora regional de Cultura do Algarve, também defendeu a ideia de que esta é uma iniciativa com repercussões no território. «A exposição vai fazer com que as pessoas olhem para a sua terra de maneira diferente», disse.
Esta mostra vem no seguimento de outra – a “LOULÉ, Territórios, Memórias e Identidades” que esteve patente no Museu Nacional de Arqueologia (MNA) até Junho, exposição que foi um sucesso, recebendo cerca de 400 mil visitantes.
António Carvalho, diretor do MNA e presente em representação da diretora geral do Património Cultural, falou desse êxito, projetando também o futuro: «as exposições são um dínamo para fazer e avançar ainda mais».
É que, como finalizou Adriana Nogueira, «no dia em que a memória desapareça, nós também desaparecemos».
Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação