Música Checa em Vila de Frades abre este sábado o Festival Terras sem Sombra

Este é o primeiro de cinco concertos em terras alentejanas com intérpretes checos

O grupo Tiburtina Ensemble apresenta-se na Igreja Matriz de São Cucufate, em Vila de Frades (Vidigueira), amanhã, dia 18 de Janeiro, às 21h30. Trata-se de uma «oportunidade rara para ouvir um dos melhores grupos europeus na interpretação de música antiga».

O concelho alentejano de Vidigueira recebe, este sábado, o primeiro concerto da temporada musical do Festival Terras sem Sombra.

O ato inaugural propõe um programa dedicado a Hildegarda de Bingen, com o grupo coral Tiburtina Ensemble, de Praga, composto integralmente por cantoras.

Sob a direção da soprano e harpista Barbora Kabátková, o agrupamento checo interpretará obras daquela compositora do século XII em Vila de Frades, na igreja de São Cucufate e uma das catedrais do Cante. O programa intitula-se justamente Harmonia Cælestis: A Corte Divina na Obra de Hildegarda de Bingen.

As vozes de timbre e expressividade inconfundíveis deste ensemble serão acompanhadas pela harpa medieval, o que promete tornar-se uma experiência única, em clave feminina, numa terra que é uma referência do Cante Alentejano, de marcado caráter masculino.

Este é o primeiro de cinco concertos em terras alentejanas com intérpretes checos (Trio Smetana, Musica Florea, Clarinet Factory e Monika Streitová) que apresentam repertórios de excelência em diversos géneros musicais, cobrindo um âmbito cronológico que se estende do século XII à atualidade.

Nas palavras do diretor artístico do Festival, Juan Ángel Vela del Campo, “os checos arribam com as suas malas carregadas de cultura musical, com as suas expectativas profissionais, com a sua brilhante experiência histórica, com a sua maneira de sentir a arte e a vida. Estamos cheios de sorte!”.

A presença da República Checa, país convidado nesta 16ª edição, é mais um capítulo na internacionalização do Festival, que conta também com grupos e solistas vindos de Espanha, Hungria e Bélgica, depois da relevante presença musical dos Estados Unidos e da Hungria, países convidados em edições anteriores.

Como sublinhou o diretor-geral do Festival, aquando da apresentação, este Janeiro, em Praga, “precisamos de valorizar linguagens que nos aproximam e ultrapassam fronteiras, essa linguagem por excelência é a música. Portugal é um país que se orgulha de ser uma encruzilhada e também um ponto de encontro, sendo de certo modo uma das expressões desta casa comum europeia. E daí ter surgido o desejo de termos, desde 2011, um país convidado”.

José António Falcão enfatizou, ainda, a vocação ibérica do Festival que, de ano para ano, se tem vindo a reforçar, figurando já no “Libro de Oro”, da Fundación Orfeo, de Madrid. O Terras sem Sombra é a única entidade portuguesa a constar naquele diretório espanhol dedicado à música.

 

Vila de Frades – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Património e Salvaguarda da Biodiversidade

O programa desta 16ª temporada estende-se até Julho de 2020 e contempla, além da música, visitas ao património e ações de salvaguarda da biodiversidade.

A presente edição do Terras sem Sombra leva-nos numa viagem pelas paisagens materiais e imateriais e as suas interações, chave para a compreensão do espírito de cada um dos lugares percorridos.

Desta feita, no âmbito do Património, está prevista para o dia 18, em Vila de Frades, na Vidigueira (15h00), uma visita guiada ao Sítio Arqueológico de São Cucufate.

Classificado como Monumento Nacional, este Sítio guarda memórias de uma villa romana do século I que, até ao século IV, se foi monumentalizando. Embora com descontinuidades, transformações e adaptações, a ocupação do espaço perdurou até aos finais do século XVIII.

A valorização dos recursos culturais e naturais e a sensibilização das comunidades para a sua proteção e valorização têm sido grandes prioridades do Festival Terras sem Sombra desde há alguns anos. A programação no âmbito da salvaguarda da biodiversidade propõe uma itinerância através de pontos-chave da geografia alentejana, abordando os seus recursos endógenos.

A 19 de Janeiro, domingo, em Vidigueira, o encontro está marcado para as 9h30, com saída da Praça da República, para uma visita aos laranjais do concelho. O objetivo é conhecer as especificidades da laranja da Vidigueira, saber como defendê-la, valorizá-la e promovê-la, nomeadamente através da sua utilização na gastronomia, na doçaria e no fabrico de licores.

O Festival Terras sem Sombra, promovido pela Associação Pedra Angular, é uma iniciativa da sociedade civil que visa dar a conhecer a um público alargado um território, o Alentejo, que sobressai pelos valores ambientais, culturais e paisagísticos e apresenta um dos melhores índices de preservação da Europa.

A valorização dos recursos patrimoniais e a sensibilização das comunidades locais para a sua salvaguarda e valorização constituem as grandes prioridades do Festival. Uma iniciativa que defende a inclusão social e territorial, atuando em rede, a partir de um conjunto de parcerias com as “forças vivas” do território.

Em 2020, a 16ª temporada do Terras sem Sombra decorrerá entre Janeiro e Julho, mantendo a sua programação centrada na música clássica, património e biodiversidade.

O Festival vai percorrer os concelhos de Vidigueira, Barrancos, Mértola, Arraiolos, Viana do Alentejo, Beja, Ferreira do Alentejo, Castelo de Vide, Sines, Alter do Chão, Santiago do Cacém e Odemira.

A Pedra Angular é uma associação cultural e científica, sem fins lucrativos, fundada em 1996. Tem por objetivo o estudo, salvaguarda e valorização do património ambiental, cultural e científico do Alentejo, com realce para os monumentos, paisagens, sítios, museus, coleções, bibliotecas, arquivos, galerias e bens culturais imateriais.

Dos seus estatutos faz parte, igualmente, contribuir para a dinamização e irradiação deste território, em particular nos domínios da criação e da programação artísticas, da conservação da biodiversidade, da inovação tecnológica, da divulgação científica e do apoio social.

 

 

Programa do Concerto

Concerto de Abertura | Vila de Frades (Vidigueira) 18 de Janeiro [21h30] Harmonia Cælestis: A Corte Divina na Obra de Hildegarda de Bingen

SANTA HILDEGARDA DE BINGEN [1098-1179]
O rubor sanguinis (Antífona)
Ave generosa gloriosa et intacta (Hino)
Marie qui gratiam (Conductus)
De patria (Antífona)
Sed diabolus in invidua sua (Antífona)
O ecclesia (Sequência)
O lucidissima Apostolorum turba Vos flores rosarum (Responsório)
O felix anima (Responsório)
O Virtus sapientiae (Antífona)
Mundus a munditia (Conductus)
Caritas abundat (Antífona)
O magne Pater (Antífona)
Hodie aperuit nobis clausa porta et Psalmu XXIV (Antífona)

 

Biografias

Tiburtina Ensemble – Fundado em 2008, em Praga, este ensemble de vozes femininas retira o nome de uma figura da história medieval: Tiburtina, a mais famosa das dez sibilas na Antiguidade, devido aos seus oráculos estreitamente relacionados com o Cristianismo.
Os paralelos entre a profetiza, símbolo da sabedoria, e os profetas bíblicos são evidentes: a origem nobre, as pregações itinerantes, as consultas efetuadas por poderosos e a capacidade de ver tudo o que virá a suceder até ao fim do mundo – algo negado aos homens, por muito clarividentes ou letrados que eles possam ser.
Salienta-se como um dos grupos mais destacados da atualidade na interpretação do Canto Gregoriano, da polifonia medieval e da criação contemporânea, devido à nitidez do timbre e à expressão ardente, a par do rigor musicológico.
O seu repertório abrange não só as composições vocais e instrumentais da Idade Média, mas também projetos que associam a música deste período a outros géneros. Às apresentações nas principais salas da Europa soma-se uma notável discografia, de que fazem parte Flos inter spinas (2011), Apokalypsis (2013), Ego sum homo (2017) e Vidi Speciosam (2018).

Barbora Kabátková – Soprano, harpa medieval e direção musical
Instruída nos segredos da pianística e do canto desde a infância, foi admitida em 1995 no Coro Filarmónico Infantil de Praga.
Continuou os estudos musicais na Universidade Carolina desta cidade, especializando-se em Direção Coral na Faculdade de Educação e em Musicologia na Faculdade de Artes, onde desenvolve a sua atividade como investigadora no âmbito do Canto Gregoriano.
Já atuou, como soprano e intérprete de harpas medievais e saltério, nos mais importantes festivais da Europa e da América do Norte.
Colabora regularmente com grupos de referência da música antiga, v.g., Collegium Vocale Gent, Collegium 1704, Il Gardellino, Collegium Marianum, Concerto Palatino, Musica Florea, Cappella Mariana, Concerto Melante e Accentus Austria.
No repertório contemporâneo, outra das suas paixões, atuou com a NDR Elbphilharmonie Orchester, a Berg Orchestra e a Ostravská Banda.

 

São Cucufate – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Património Cultural

VILA DE FRADES (VIDIGUEIRA), 18 de Janeiro, 15h00
Ao Encontro das Raízes: O Sítio Arqueológico de São Cucufate

Em local pouco elevado, mas que domina um extenso trecho de paisagem, instalou-se, no século I d.C., uma villa, aproveitando o solo fértil e a abundância de água.
Ao longo dos séculos seguintes, beneficiou de uma progressiva monumentalização, tendo passado por duas grandes campanhas de obras: a primeira, no século II, vincou o carácter “urbano” do conjunto; a segunda, em meados do século IV, assumiu uma arquitetura aberta ao exterior, graças à multiplicação dos vãos.
São desta fase os vestígios que, ainda hoje – conservada apenas parte do piso térreo –, testemunham a opulência de uma época prestes a findar. Mas a ocupação do espaço sobreviveu, com descontinuidades, transformações e adaptações, à queda do Império. Talvez já no século IX, um convento reaproveitou parte das suas estruturas.
Após a Reconquista, foi entregue aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, que aí estabeleceram um mosteiro. Quando este fechou portas, em pleno século XVII, o culto prosseguiu na igreja. Também ela abandonada, após o terramoto de 1755, permaneceria junto ao velho complexo uma horta com a casita do hortelão.

COLABORAÇÃO: Ministério da Cultura, Direção Regional de Cultura do Alentejo
APOIO: Município de Vidigueira; Junta de Freguesia de Vila de Frades
GUIAS: Susana Correia (arqueóloga) e José António Falcão (historiador de Arte)

 

Biodiversidade

VIDIGUEIRA 19 de Janeiro, 9h30
No Jardim das Hespérides: Os Laranjais de Vidigueira

A laranja é um fruto híbrido que se julga ter surgido, na Antiguidade, a partir do cruzamento da cimboa com a tangerina. Devido à riqueza em vitaminas C e A, cálcio, flavonoides, fibras e minerais como magnésio, folato e potássio, assume papel fundamental na alimentação humana.
Em Portugal, tem um dos seus solares em terras de Vidigueira. “Onde há bom vinho, há laranjas”: este dito, escutado a um lavrador local, faz justiça à excelência de um terroir vitícola que possui igualmente grandes aptidões para a fruticultura.
Ainda não mencionados nas Memórias Paroquiais de 1758, os laranjais de Vidigueira e Vila de Frades terão surgido, no essencial, a partir dos finais do século XIX, celebrizando-se pela abundância e pela qualidade da sua produção, mormente na variedade da laranja-pera, mais tardia e com um reduzido grau de acidez.
Hoje, são poucos os laranjais bem tratados, mas perduram as especificidades da “laranja da Vidigueira”. Esta requer um grau de proteção que permita defendê-la, valorizá-la e promovê-la, incentivando também a sua utilização na gastronomia e, em particular, na doçaria e no fabrico de licores.

APOIO: Município de Vidigueira
GUIAS: José Francisco Fragoso (produtor)

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