Projeto Sonotomia da União Europeia arranca no Alentejo

Definir o perfil sonoro e captar as particularidades de uma orla marítima em rápida transformação constitui uma das prioridades desta iniciativa europeia

Registar, estudar e potenciar a herança sonora europeia é o objetivo do projeto Sonotomia, recentemente aprovado pela União Europeia, no âmbito do programa Europa Criativa.

A iniciativa, a única liderada por Portugal em todo este exigente programa comunitário, é coordenada pela associação Pedra Angular e pelo Festival Terras sem Sombra, tendo como parceiros a Fundación Santa María de Albarracín, do Governo de Aragão, e o Spatial Sound Institute, de Budapeste.

Na abordagem do universo sonoro do velho continente, a instituição espanhola ocupar-se-á das paisagens rurais e a congénere húngara dos territórios urbanos. Portugal, que chefia o projeto, bastante inovador a vários títulos, tem a seu cargo os ambientes costeiros e fluviais do Sul, com realce para o Alentejo.

Os trabalhos iniciaram-se na orla marítima de Odemira, concelho onde também decorreu, entre 12 e 14 de Dezembro, a primeira reunião das estruturas de Sonotomia, com a presença de peritos como o geógrafo Antonio Jiménez, o engenheiro de som Peter Halasz, o historiador de arte José António Falcão, a designer Alifiyam Imani ou a fotógrafa da natureza Monica Busquets, entre outros.

Partindo da herdade do Chocalinho, junto à aldeia de Bemposta, os participantes nesta fase inicial do projeto exploraram diferentes pontos da geografia da costa alentejana, dialogaram com representantes do município de Odemira e das comunidades locais e traçaram planos para os dois próximos anos de intensa atividade.

«Definir o perfil sonoro e captar as particularidades de uma orla marítima em rápida transformação constitui uma das prioridades desta iniciativa europeia, que está associada ao esforço do Festival Terras sem Sombra para internacionalizar o Alentejo como destino de arte e natureza», salienta a associação Pedra Angular.

«Face às alterações que se adivinham na fisionomia da costa sudoeste, a iniciativa visa criar um arquivo sonoro no âmbito dos territórios marítimos e fluviais, alargando-o posteriormente aos cursos de água de outras áreas alentejanas, como as bacias do Guadiana, Sado e Caia», explicam os parceiros portugueses deste projeto europeu.

Está em causa a preservação de «uma vertente quase ignorada do património nacional e que se pretende agora dinamizar». A experiência poderá ser replicada noutros pontos do continente europeu.

«A Europa é feita de muitas e pequenas coisas, mas costuma falar-se pouco do seu rico património sonoro. Este representa, no entanto, uma parcela extremamente importante da identidade desta região do mundo, tendo servido de inspiração, ao longo dos séculos, a inúmeros criadores, com destaque para músicos e artistas plásticos. Quem não conhece As Quatro Estações, de Vivaldi? Poderiam multiplicar-se os exemplos nas mais variadas áreas da arte, da literatura, do pensamento ou da ciência», enquadra a Pedra Angular.

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