Guadiana vai levar «o mar até Mértola» em 2021

Navegabilidade da foz até ao Pomarão será garantida nos próximos meses

«Estamos a trazer o mar até Mértola e a levar Mértola até ao mar», usando, para isso, a autoestrada que o Guadiana tem potencial para ser. Este é o grande objetivo do investimento que está a ser feito na navegabilidade deste rio, que permitirá que, até final do ano, seja possível navegar «de dia e de noite» até ao Pomarão e chegar a Mértola em 2021 – se tudo correr bem.

A ministra do Mar Ana Paula Vitorino esteve ontem, dia 12, no Pomarão, junto à fronteira entre Portugal e Espanha, para presidir à cerimónia de assinatura do contrato da obra de desassoreamento e colocação de sinalética marítima do troço do Guadiana entre Alcoutim e esta pequena – mas bem emblemática – aldeia raiana.

Na mesma sessão, na qual o Sul Informação marcou presença, também se assinou um protocolo que, entre outras coisas, prevê o estudo da obra para a navegabilidade do rio entre o Pomarão e Mértola para barcos maiores, nomeadamente com um máximo de 70 metros de comprimento, 10 metros de boca e calado até 1,8 metros.

No que toca à navegabilidade até ao Pomarão, a intervenção deverá começar «dentro de dias, certamente ainda este mês», e tem um prazo de execução de três meses a partir do momento em que a obra seja consignada. Ou seja, é certo «que a obra estará concluída ainda este ano, mesmo que haja um atraso na consignação», assegurou Ana Paula Vitorino aos jornalistas, à margem da cerimónia.

«Em Outubro, em princípio, estará acabada», revelou a ministra do Mar. O custo previsto fixa-se nos 612 mil euros, 75% dois quais serão garantidos por Fundos da União Europeia, através do POCTEP, programa operacional transfronteiriço entre Portugal e Espanha – a intervenção é num troço internacional do rio.

A obra prevê o desassoreamento do rio e estabilização dos fundos, de modo a garantir um corredor de 30 metros de largura mínima e de, pelo menos, 2 metros de profundidade.

 

 

O projeto prevê, ainda, o assinalamento marítimo com alcance de duas milhas de distância, que permitirá, «navegar desde a foz do Guadiana até Pomarão, de dia ou de noite, com toda a segurança», segundo a ministra do Mar.

Ou seja, serão criadas «condições similares» às que existem no troço entre Vila Real de Santo António (VRSA) e Alcoutim, no qual a navegabilidade já foi garantida com uma intervenção realizada em 2015.

Além de lançar obra, o Governo aproveitou o dia de ontem para preparar a futura intervenção no Guadiana entre Pomarão e Mértola. Neste caso, há muitas incógnitas, até porque se adivinha que o processo seja mais complicado que nas fases anteriores.

«Esse troço será mais complexo que os anteriores do ponto de vista geológico e ambiental. Está inserido numa zona protegida e, como tal, demorará um pouco mais. Tudo se prevê que esteja concluído até ao final de 2021», disse Ana Paula Vitorino.

«Esperemos que corra bem. Assim que tivermos a Declaração de Impacto Ambiental, naturalmente lançaremos o concurso para a realização da intervenção», acrescentou.

Esta última fase «custará bastante mais do que as anteriores. Tanto no troço entre VRSA e Alcoutim, como no entre esta vila e Pomarão, o custo rondou os 600 mil euros. O que antecipamos é que este último, se ultrapassará o milhão de euros».

 

 

«O que prevemos é que a última fase seja muito parecida às anteriores, com a regularização do fundo e o assinalar do canal para navegação diurna e noturna. Há cada vez mais pessoas e entidades a querer usar o rio para chegar a Mértola e não conseguem, alguns até ficam encalhados«, explicou, por seu lado, Jorge Rosa, presidente da Câmara de Mértola.

«Este último troço é, talvez, o mais emblemático do rio. Mas o protocolo dá-nos garantias de que o processo é para continuar e que serão feitos estudos nesse sentido», considerou o edil mertolense.

O acordo ontem assinado entre a Câmara de Mértola e a Direçao Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) prevê, igualmente, «um plano de comunicação e divulgação das potencialidades de Mértola, quer no lado do rio, quer em terra».

«O que nós pretendemos é criar condições para que o turismo se possa desenvolver. Quer em Mértola, quer em Alcoutim, nós temos condições fantásticas para o desenvolvimento de rotas turísticas, pois temos uma belíssima gastronomia, apontamentos históricos e culturais de valor significativo e toda esta paisagem, que é absolutamente fantástica», acredita a ministra do Mar.

Ou seja, estão reunidos «todos os condimentos para que se possa desenvolver o turismo, mantendo as atividades tradicionais, como a pesca, com toda a qualidade».

A ministra do Mar aproveitou o facto de estar no Pomarão para anunciar que a Docapesca se prepara para investir «2,5 milhões de euros na reabilitação de todos os pontos de contactos e pequenos acessos entre o rio e o território, entre VRSA e Mértola. Isto permitirá um melhor acesso ao Guadiana, mas também uma interação mais digna e simpática para as populações».

 

Ana Paula Vitorino

 

Todos estes investimentos, que no conjunto atingem «os 6 milhões de euros» – contabilizando obras de navegabilidade feitas e a fazer, este investimento da Docapesca, a intervenção na Barra de VRSA, estudos e projetos – visam «garantir a navegabilidade do rio Guadiana, promovendo, em simultâneo, o desenvolvimento de toda esta zona».

«Este é um projeto de inclusão e de desenvolvimento do interior. É uma iniciativa fantástica para os que aqui vivem e para aqueles que vão passar a conhecer este território», reforçou Ana Paula Vitorino.

Jorge Rosa concorda com a governante, já que considerou que «este é, sem dúvida, um grande investimento  e um processo que irá significar muito para o desenvolvimento desta região.

O autarca defende que com a obra que irá começar em breve e a que se prevê conlcuir até 2021, vão ser «assinaladas as mais valias que este grande rio do Sul aporta a este território e que não têm sido convenientemente exploradas até agora».

«Este processo vai permitir explorar o potencial do Guadiana no que toca à via fluvial, que é histórica e de utilização muito antiga, mas que, nos últimos tempos, devido ao assoreamento do rio, não está  a ser tão bem utilizada como devia», disse o presidente da Câmara de Mértola.

«Queremos aproveitar este projeto como ministério do Mar para, no futuro, criar condições de desenvolvimento do território e nos possa ajudar a todos aqui do interior a preparar um futuro melhor», acrescentou.

 

Jorge Rosa

 

Quem já tem um gostinho do que é estar ligado ao mar por intermédio do Guadiana é Alcoutim, até onde os grandes barcos podem navegar desde 2015 e onde têm condições para virar.

«Nota-se a diferença. O facto de o rio já ser navegável até Alcoutim, com todas as condições, e de existir a carta de navegação, atrai outro tipo de visitantes. Porque, antes, era só para quem conhecia o rio a palmo», disse ao Sul Informação Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara de Alcoutim.

Mas, apesar de Alcoutim estar já ligado ao mar, «mas ficará mais bem servido, garantidamente, no dia em que tivermos a possibilidade de navegar até Mértola. Esta obra até ao Pomarão já vai aumentar o fluxo de barcos e o interesse em vir a este território».

«Se nós temos uma estrada que está interrompida a meio, essa estrada não vai ter nunca ter o trânsito que teria se estiver completa. Com o rio, passa-se exatamente a mesma coisa. Nós, com o Guadiana navegável de VRSA a Mértola, iremos,  de certeza, ter aqui um maior desenvolvimento e maior capacidade de atração de investimento, sem perder a beleza natural do território», concluiu o edil alcoutenejo.

 

Fotos: Hélder Santos|Sul Informação

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