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Detalhe de uma flor de Stauracanthus genistoides – Fotografia de Sergio Chozas

Um estudo agora publicado na revista Annals of Botany conclui que a distribuição geográfica atual dos tojos do género Stauracanthus – arbustos espinhosos que ocorrem nas dunas interiores das praias portuguesas – se deve a acontecimentos geológicos de grande escala ocorridos no Mar Mediterrâneo há cerca de cinco milhões de anos.

Da próxima vez que for à praia, olhe com atenção para as dunas mais interiores. É provável que lá encontre alguns dos protagonistas desta história – os tojos: arbustos espinhosos do género Stauracanthus, que habitam as zonas áridas próximas do mar no sudoeste da Península Ibérica e no Norte de África.

As três espécies que integram este género ocorrem em diferentes tipos de solo: S. boivinii (tojo-gatum) prefere áreas com areias grossas; enquanto S. genistoides (tojo-manso), que suporta Verões mais secos, e S. spectabilis (tojo-chamusco), adaptada a Verões mais suaves, crescem sobre dunas de areias finas.

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As razões por detrás da distribuição geográfica destas espécies, e a forma como elas surgiram e evoluíram, eram até agora pouco conhecidas. O estudo agora publicado revela que a origem pode estar em acontecimentos geológicos de grande escala ocorridos no Mar Mediterrâneo há mais de cinco milhões de anos.

Os investigadores utilizaram modelos computacionais para melhor determinar a distribuição geográfica das espécies na Península Ibérica, e estudaram análises genéticas de populações das três espécies para estudar como ocorreu o processo de especiação – ou seja, como surgiram e evoluíram estas espécies.

Sergio Chozas, investigador do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e primeiro autor do estudo, explica: “Ao longo de milhares de anos, diferentes indivíduos de uma população foram-se adaptando a diferentes condições climáticas e solos, isolando-se reprodutivamente até, finalmente, constituírem as três espécies que conhecemos hoje”.

 

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Comunidade de Stauracanthus genistoides nas falésias da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica – Fotografia de Sergio Chozas

 

Foi no âmbito das complexas flutuações ambientais e geológicas que ocorreram no Mediterrâneo ocidental entre o Mioceno e o Pleistoceno (há entre 20 milhões de anos e 100 000 anos) que o processo de especiação se desenvolveu.

“Há cerca de cinco milhões de anos grande parte do Mar Mediterrâneo secou, naquilo a que se chama Crise de Salinidade Messiniana, o que aumentou a aridez nesta região e reduziu e fragmentou a área de distribuição dos ancestrais destas espécies. A posterior abertura do Estreito de Gibraltar, no fim do Mioceno, suavizou as condições climáticas e permitiu a recolonização da região, já como espécies diferenciadas”, explica Sergio Chozas.

Estes tojos têm um papel fundamental nos habitats onde ocorrem: além de fixarem o azoto atmosférico no solo e a areia nas dunas, ao promoverem o aumento de matéria orgânica no solo permitem também o desenvolvimento de comunidades mais complexas.

A espécie S. spectabilis, adaptada a Verões mais suaves e com uma menor área geográfica de distribuição, é a que apresenta um maior perigo de extinção face aos efeitos das alterações climáticas. “Se as previsões relativas às alterações climáticas para Portugal se confirmarem – aumento das temperaturas e diminuição drástica das precipitações de Primavera e Verão – é previsível que no futuro a área de ocorrência de S. genistoides aumente significativamente, enquanto a de S. spectabilis fique limitada as áreas mais atlântica do sudoeste alentejano”, refere Sergio Chozas.

“Futuramente, gostaríamos de alargar o nosso estudo genético às populações de S. genistoides que ocorrem ao Norte do rio Tejo e ao longo da sua vazia até quase a fronteira com Espanha, por forma de perceber a origem e dispersão destas populações”, conclui o investigador.

 

Referência do artigo:

S. Chozas, R.M. Chefaoui, O. Correia, R. Bonal y J. Hortal (2017) Annals of Botany Environmental niche divergence among three dune shrub sister species with parapatric distributions. DOI: 10.1093/aob/mcx004

 

Autora: Marta Daniela Santos – Gabinete de Comunicação do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais

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