O livro “200 Plantas do SW Alentejano & Costa Vicentina”, o primeiro Guia de flora para esta zona portuguesa, acaba de ser lançado, numa edição bilingue – Português e Inglês.
Pretende ser uma obra de introdução à flora do Sudoeste Português, dirigida ao público em geral, e apresenta 200 das cerca de 1000 plantas existentes na costa sudoeste.
O guia é constituído por fichas com a fotografia de cada planta, o nome científico da espécie, a família botânica, os nomes comuns em português e inglês e uma breve descrição. Inclui ainda uma legenda, onde é dada informação sobre a altura da planta, o período de floração, o ciclo vegetativo, o habitat e o estatuto de proteção. As fichas estão organizadas pela cor da flor, facilitando a identificação no terreno.
É uma obra da autoria de Ana Luísa Simões e Ana Carla Cabrita que, ao longo dos últimos dois anos, se dedicaram a fotografar, investigar e compilar toda a informação relativa às plantas apresentadas na obra.
Ana Carla Cabrita disse ao Sul Informação que «todo o trabalho de pesquisa, escrita e conceção gráfica foi feito ao longo de cerca de dois anos. Várias fotografias foram tiradas durante estes anos, mas muitas delas já faziam parte de arquivo pessoal, com o objetivo de compilar informação sobre a matéria».
«A Ana Luísa Simões, do Porto mas a mudar-se para a Costa Vicentina, e com bastantes conhecimentos de botânica, ligou-me um dia a propor escrevermos juntas o guia e lançámo-nos ao trabalho. A partir daqui, foi pesquisar, ir para o campo, escrever, rever, traduzir, fotografar, etc. Tivemos a preciosa ajuda do Coronel José Rosa Pinto, professor da Universidade do Algarve, que chegou a vir ter connosco para irmos juntos ao campo identificar plantas», acrescentou a autora.
O projeto de criação do Guia das “200 Plantas do Sudoeste Alentejano & Costa Vicentina” surgiu «do sentimento de uma lacuna no que respeita à oferta de publicações de vulgarização representativas da flora deste território, capazes de auxiliar os profissionais de turismo, animação e educação ambiental, e favorecer a aproximação dos habitantes às zonas naturais. Entendemos que a divulgação dos valores naturais é fundamental, uma vez que só apenas conhecendo e respeitando, saberemos proteger», explicou ainda Ana Carla Cabrita.
As autoras sublinham que «a Costa Sudoeste é uma das últimas e mais importantes extensões de litoral selvagem do sul da Europa». A imensa riqueza, florística e faunística da região foi reconhecida com a criação do estatuto de Parque Natural, a nível nacional e a nível europeu, com a inclusão na Lista de Sítios de Importância Comunitária, como Zona Especial de Conservação. «Esta imagem de uma zona natural pouco alterada e surpreendentemente bem preservada tem levado ao aumento do número de visitantes com interesse pelo turismo de natureza», área em que Ana Carla Cabrita trabalha.
Entre as ameaças que pendem sobre a flora da Costa Sudoeste, «a nosso ver, e segundo apurámos através de documentos, as mais importantes são as que resultam da expansão urbano-turística. Terá de haver um desenvolvimento verdadeiramente sustentável para que a carga e o pisoteio não façam desaparecer muitas espécies aqui existentes», disse a autora. Mas, alerta, «a extração ilegal de areias, e a destruição de dunas são também fatores destrutivos».

Embora garanta que é «difícil destacar uma planta, porque a riqueza do Sudoeste português é, de facto, impressionante», Ana Carla Cabrita aponta ainda o caso do «Plantago almogravensis, de extrema raridade e em regressão, planta da qual apenas é conhecido um núcleo em toda a costa do PNSACV, e o Ulex erinaceus (Tojo-de-Sagres), um endemismo da Reserva Biogenética de Sagres, cujas formações, juntamente com o Cistus palhinhae, constituem um habitat raro e prioritário para conservação no âmbito da REDE NATURA 2000 (Dec. Lei nº 49/2005 de 24/02)».
E porquê estas 200 plantas e não outras? «Procurámos escolher plantas que fossem mais comuns de observar, uma vez que se trata de um guia de campo para quem quer identificar o que mais comummente nos surge ao olhar. Mas quisemos também incluir alguns endemismos, quer locais quer nacionais ou ibéricos, de forma a salientar a imensa riqueza do nosso Sudoeste. Ficaram muitas plantas de lado, mas quisemos lançar uma primeira pedra para que outros guias possam ir surgindo».
Ana Carla Cabrita, natural de Sagres, é Guia de Natureza na Costa Vicentina e colabora pontualmente em projetos de cariz ambiental. Ana Luísa Simões, natural do Porto e a viver em Odemira, tem trabalhado, nos últimos anos, na área da Animação e Educação Ambiental em áreas protegidas de França, onde aprofundou os seus conhecimentos sobre a flora mediterrânica.
A partir de hoje, dia 25 de Dezembro, estará também à venda na FNAC da Guia e futuramente na FNAC de Faro. Será também nestas duas lojas da FNAC que as autoras irão fazer apresentações públicas do livro, nos dias 24 e 25 de Janeiro, às 16h00, em Faro e na Guia, respetivamente.
O Guia contou com um apoio monetário da Direção Regional de Cultura do Algarve e com a compra de livros por parte de quatro Câmaras Municipais (Vila do Bispo, Aljezur, Odemira e Sines), que «mostraram imediata abertura para nos apoiar adquirindo os guias. Foi este dinheiro que nos permitiu pagar a impressão de 2000 exemplares».