O alentejano que estabeleceu as fronteiras do Brasil

Os vínculos seculares entre o Alentejo e o Brasil, perpetuados pela figura de António Raposo Tavares, bandeirante alentejano que contribuiu, […]

Os vínculos seculares entre o Alentejo e o Brasil, perpetuados pela figura de António Raposo Tavares, bandeirante alentejano que contribuiu, de maneira fundamental, para a formação territorial do Brasil, vão ser evocados nos dias 5 e 6 de outubro, em Beja, Mértola e São Miguel do Pinheiro.

Com o arranque das comemorações do ano luso-brasileiro 2012-2013, Portugal e Brasil estreitam as suas relações e procuram os laços que desde há muito os unem.

A consciência deste património comum levou a Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo e o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja a unirem esforços com os municípios de Mértola e Beja e o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo para uma evocação do bandeirante alentejano.

No primeiro dia, em Beja, pelas 12h00, terá lugar uma homenagem, com a presença do Regimento de Infantaria 3, junto à estátua de Raposo Tavares.

Dia 6, às 10h00, no Cine-Teatro Marques Duque, em Mértola, realizar-se-á o seminário “A Formação Territorial do Brasil – O Contributo de António Raposo Tavares”, com a colaboração de investigadores da Universidade de São Paulo, da Universidade Estadual Paulista, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.

Da parte da tarde, às 16h00, far-se-á um percurso até São Miguel do Pinheiro, a que se associa a comunidade local, com a inauguração de uma placa na igreja onde o bandeirante nasceu e foi batizado.

Os laços entre o Alentejo e o Brasil são antigos, remontando aos primórdios da expansão portuguesa na América, conjuntura em que participaram inúmeros alentejanos, como militares, funcionários da Coroa, missionários, “tratantes” (comerciantes), artesãos ou simples arroteadores de terras.

Além da figura tutelar de António Raposo Tavares, hoje lembrada numa das principais praças de Beja, existe entre nós um significativo legado luso-brasileiro, de “torna-viagem”, que merece ser conhecido.

Não podem ser esquecidos, igualmente, os alentejanos que fizeram carreira no Brasil, nos séculos XVII, XVIII e XIX.

O Alentejo conserva igrejas, mansões, pinturas, móveis, jóias e outros valores culturais que reflectem curiosos aspectos desta relação recíproca, sem esquecer os seus reflexos na língua, na culinária e nas tradições populares de ambos os países.

E, hoje, muitos cidadãos do Brasil trabalham e vivem na região, promovendo o seu desenvolvimento.

 

A expedição de António Raposo Tavares no Brasil

Raposo Tavares partiu para o Brasil, em 1618, com o pai, Fernão Vieira Tavares, governador da capitania de São Vicente.

Em 1622 fixou-se em São Paulo. Cinco anos mais tarde, comandou a sua primeira bandeira (expedição militar), atingindo o Rio Grande do Sul, de onde expulsou os jesuítas espanhóis.

Em 1636, comandou outra bandeira, agora para expulsar os jesuítas espanhóis de Tapes, também no Rio Grande do Sul, de modo a assegurar a demarcação territorial portuguesa.

De 1639 a 1642 integrou as forças que lutaram contra os holandeses, desempenhando papel importante nas campanhas para a reconquista da Bahia e de Pernambuco. Em 1640 proclamou a restauração da independência portuguesa, em São Paulo. O rei D. João IV nomeou-o mestre-de-campo.

A última expedição que capitaneou viria a sair de São Paulo, em 1648, em busca de prata, e durou três anos, percorrendo um total de 10 mil quilómetros, em direcção ao norte.

Esta e outras iniciativas de Raposo Tavares contribuíram, de maneira fundamental, para a formação territorial do Brasil.

O bandeirante faleceu em São Paulo, em 1658, sendo esquecido nas terras de origem. A sua memória só viria a ser resgatada, no Alentejo, em 1966, por iniciativa das autoridades paulistas, após o notável estudo que Jaime Cortesão lhe consagrara, oito anos antes (Raposo Tavares e a Formação Territorial do Brasil).

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