Passava pouco das 21h00 quando se começaram a ouvir as primeiras notas. Naquele dia, o ensaio começou com “A Morte Saiu à Rua”, de Zeca Afonso, uma das canções que fará parte do espetáculo “Sonho da Música”, que será apresentado pelo Grupo Coral Ossónoba, no dia 12 de Abril, no Teatro das Figuras, em Faro.
Em palco, os Pequenos Cantores de Ossónoba, que vão desde os 7 aos 15 anos, as Novas Vozes de Ossónoba, dos 15 aos 25 anos, e o Grupo Coral Ossónoba juntam-se para celebrar o 25 de Abril e a liberdade. E terão convidados de peso.
«Não se trata apenas de um concerto de um grupo coral que vai cantar canções da resistência. Esse é um ponto de partida, mas é muito mais do que isso. Estamos a falar de um espetáculo feito de raiz, em que os arranjos são feitos de acordo com este grupo coral. Haverá também declamação de poesia, projeção de filmes, convidados – tudo encadeado», começa por revelar ao Sul Informação o maestro Nuno Rodrigues.
A Maria de Lurdes Ferreira, este espetáculo diz-lhe muito, pois sabe bem o que foi viver em ditadura.
«Eu ouvia estas canções nas escadas da cantina da universidade. Comemorar esta data é sempre essencial e o tema foi bem escolhido. Quando cantamos, eu estou a reviver todas estas músicas que me são muito familiares», diz ao nosso jornal.
Aos 74 anos, Maria de Lurdes é das mais velhas do grupo que, de ano para ano, se tem tornado cada vez mais envelhecido.
«Eu entrei com 33 anos. Nessa altura, éramos todos mais ou menos dessa idade. Agora, faz falta que, quando os mais velhos saem, entrem mais novos para que haja uma renovação», desabafa.
Esta é, aliás, uma das maiores preocupações neste momento, tanto do maestro, como da direção do Grupo Coral Ossónoba, uma das associações mais antigas com atividade contínua no Algarve.

«Esta não é uma característica só nossa, mas da sociedade em si, que está cada vez mais envelhecida. Por um lado, dá-nos mais experiência, dá-nos uma outra forma de ver as coisas, com mais desprendimento e menos dramatismo, muitas vezes, mas é claro que também se reflete um bocadinho da própria energia física do grupo», revela o maestro.
Luís Espada, 51 anos, faz parte do grupo desde 2007, sendo atualmente o presidente da direção e um dos membros mais jovens. Com um pai compositor, maestro e pianista, Luís considera que nasceu praticamente num coro, e, por isso, dedicar-se a esta atividade nos seus tempos livres sempre lhe fez sentido.
Em conversa com o Sul Informação, lamenta ainda que mais homens não deem uma oportunidade à atividade. Já que, atualmente, «estamos em desvantagem tanto nas idades, como em termos do número de homens».
Ainda assim, nos últimos 45 anos, o Grupo tem conseguido manter-se, com foco na qualidade a que sempre quiseram habituar os seus públicos.
Na sala da direção, as centenas de troféus são o espelho disso mesmo, mas Luís Espada faz questão de enaltecer dois: a Medalha de Mérito Grau Ouro atribuída pelo Município de Faro e o título honorífico da Ordem do Rio Branco.

«Estamos a falar de um título honorífico do Estado Brasileiro que é dado a entidades que se destacam, de alguma forma, pela cultura e pela ligação fraterna com a República Federativa do Brasil. O facto de nos ter sido atribuída a nós é muito gratificante», revela.
É que o Coral Ossónoba orgulha-se de ser um grupo de cantores amadores, mas exigência e profissionalismo é coisa que ali não falta.
Para o maestro Nuno Rodrigues, «ensaiar um grupo como este é muito gratificante».
«Aqui também funcionamos como uma espécie de escola, porque as pessoas vão aprendendo aos poucos. A maioria tem uma coisa excelente que é um bom ouvido e uma grande apetência musical. Sabem como é estar em grupo. Dá um grande gosto ver a evolução por parte de pessoas que não têm uma educação musical, mas que, mesmo assim, conseguem resultados muito bons», frisa o maestro.
Deste espetáculo “Sonho da Música”, Luís Espada destaca ainda o facto de o Grupo Coral Ossónoba conseguir juntar em palco tantos cantores amadores e ainda artistas consagrados, como Domingos Caetano, Viviane, Afonso Dias ou o pianista Pedro Calquinha.
«Isto, de um coro amador juntar em palco pessoas que, aparentemente, não têm nada a ver com ele, é algo que se faz pouco em Portugal e nós vamos ter isso aqui neste espetáculo», diz o presidente.

Quem também está muito ansiosa com a apresentação é Ana Vieira, de 42 anos, o elemento mais jovem do grupo.
Há um ano no Coral Ossónoba, Ana confessa que nunca se tinha interessado pela atividade, mas não podia estar mais feliz pelo passo que deu.
«Tinha a ideia de que era uma chatice e não é nada, é muito mais divertido do que aquilo que se possa alguma vez pensar. Depois, esta foi também a oportunidade de ouro da minha vida para poder cantar à vontade e libertar a voz à vontade», diz, entre risos.
Ana Vieira destaca ainda «que outra das partes muito boas é o grupo em si. As pessoas, a boa vontade, a entreajuda… Aqui todos puxamos uns pelos outros e, quando aqui entramos, esquecemos os problemas do dia a dia».
A poucas semanas de estrear o novo espetáculo, a coralista confessa que «era bom que houvesse mais pessoas, mais jovens, a querer fazer parte do coro».
«Haver sempre ar renovado, que é importante, seja onde for, e mantém uma coisa que já existe aqui,
que é a troca de ideias e partilha de conhecimento», remata.
Os bilhetes para o espetáculo “Liberdade – X Sonho da Música” custam 10 euros e já estão à venda na BOL.
Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação




























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