Obras de restauro em igreja de Beja descobrem importantes pinturas murais

Pinturas murais representativas das distintas épocas, escondidas por intervenções posteriores de menor interesse histórico/artístico, foram descobertas Igreja de Nossa Senhora […]

Pinturas murais representativas das distintas épocas, escondidas por intervenções posteriores de menor interesse histórico/artístico, foram descobertas Igreja de Nossa Senhora Pé da Cruz, em Beja, durante os trabalhos de conservação e restauro que aí estão a decorrer, anunciou a Câmara Municipal desta cidade alentejana.

Segundo a autarquia, o tímpano da fachada estava coberto por uma pintura a óleo sobre tela representando a «Última Ceia», com moldura dourada a ouro fino, muito partida com acrescentos e adaptações unidos por uma infinidade de pregos oxidados.

«Tendo-se desmontado a moldura para tratamento no solo e dando-se início ao restauro da tela “in loco”, observou-se que, sob a estrutura de madeira à qual a tela estava pregada em todo o seu perímetro, existia pintura mural executada à base de folha de ouro fino».

Para ter uma «completa noção da extensão da pintura original existente (e seu estado de conservação), iniciaram-se então as tarefas não previstas da total desmontagem do forro em madeira e respetiva estrutura ancorada à parede».

Foi então que, ao centro da parede, apareceu um vão circular entaipado pelo exterior e correspondente a uma janela central da fachada.

Também este vão (moldura interior e exterior) está pintado com a mesma decoração e técnica da restante parede. Sobre este “óculo” e encimando a pintura, surgiu uma cartela pintada com a descrição «Fessedesmolas Anno 1672».

«Além do enorme interesse cronológico, está intencionalmente bem plasmada a origem dos fundos que patrocinaram esta fantástica pintura», ou seja, as esmolas dos crentes da época, salienta a Câmara de Beja.

Assim, a pintura irá ser devolvida à luz «por razões estéticas, históricas e éticas», respeitando todos aqueles que para ela contribuíram.

Segundo a Junqueira 220, empresa de restauro responsável pelos trabalhos em curso na Igreja de Nossa Senhora Pé da Cruz, para garantir a manutenção das pinturas murais descobertas, é necessário proceder a uma série de trabalhos de conservação e restauro.

Assim sendo, a Associação de Desenvolvimento Regional Portas do Território, entidade responsável pela intervenção, irá proceder às diligências necessárias junto da Direção Geral do Património Cultural (ex-Igespar), para obter autorização para estes novos trabalhos.

A Câmara Municipal de Beja é parceira da Associação de Desenvolvimento Regional Portas do Território, que articula também com a Diocese de Beja e a Santa Casa da Misericórdia de Beja, entre outros sócios. É através desta entidade que estão a ser feitos os trabalhos de requalificação e recuperação de três monumentos religiosos da cidade: a ermida de Santo André, a capela de Nossa Senhora do Rosário e a igreja de Nossa Senhora ao Pé da Cruz.

Trata-se de uma obra cofinanciada pelo QREN (Quadro de Referência Nacional), pelo Programa de Regeneração Urbana do Centro Histórico da Cidade de Beja (PRUCHB), com um valor correspondente a 80%, sendo os restantes 20%  suportados pelo Município e pela Diocese de Beja.

 

O que poderá ser feito nesta obra de restauro da Igreja de Nossa Senhora Pé da Cruz (segunda a Junqueira 220):

 

«É bem patente o frágil estado de conservação: pulverulência da policromia, desagregação das argamassas do suporte, infinidade de buracos das ancoragens da estrutura de madeira e moldura da pintura “Última Ceia”, infestação de sais e micro organismos, cimentos sobre a policromia, etc.

O que irá ser feito:

– “Facing” da policromia,

– Limpeza superficial da policromia,

– Fixação/consolidação das argamassas pulverulentas ao reboco,

– Injeção de consolidante nas bolsas existentes,

– Remoção de todos os elementos metálicos oxidados que fixavam as antigas estruturas de madeira. Várias escápulas de grande dimensão terão que ser serradas, pois a sua remoção é arriscada para a pintura.

– Fixação definitiva da policromia e folha de ouro fino,

– Desinfestação das extensas zonas atacadas por micro organismos,

– Aplicação de massas niveladoras em todos as zonas lacunares,

– Reintegração cromática a aguarela de todas as zonas estucadas de novo,

– Aplicação de camada protetora.

Toda a união desta parede de fundo com as laterais e teto tem fortes abatimentos e cedências que terão que ser consolidados e preenchidos e posteriormente reintegrados cromaticamente.

Também todo o nicho do altar lateral da Capela-mor (lado do Evangelho) está completamente repintado de forma grosseira. Ao retirar-se a imagem do Senhor dos Passos observou-se a existência de pintura decorativa (motivos vegetalistas) no teto e sanca. Em nosso entender, as terríveis pinturas plásticas sobre rebocos cimentícios deverão ser removidos e proceder-se à recuperação das policromias originais, devolvendo o equilíbrio estético que caracteriza este conjunto. É na verdade gritante o aspeto atual do interior deste altar de tão importante localização.

As tarefas a executar serão:

– Fixação por injeção da policromia original,

– Remoção cuidada de todas as argamassas grosseiras aplicadas sobre a policromia original, acompanhada pela constante fixação da policromia.

– Consolidação das argamassas originais (muito pulverulentas) que servem de suporte à pintura original,

– Execução de novas argamassas (cal e areia) e aplicação em todas as zonas lacunares,

– Reintegração cromática,

– Aplicação de camada protetora».

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