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corrida fotográfica

Sul InformaçãoO título deste artigo não declara uma má experiência num qualquer Barco do Amor, antes é o resumo de uma conversa deste fim-de-semana.

O café chama-se Beira-Mar e partilhei mesa com o dono que é também Mestre de um barco de pesca.

A conversa começou, como tantas outras, pelo tempo.

jf-quarteira

“É que vai de seca”, disse-me.

“Pois vai. Não chove vai já para…bem, noutros anos não noto o tempo como desta vez”, respondi. “Desde que o meu filho nasceu, e já lá vão quase três meses, o rapaz ainda só apanhou uma manhã de chuva”, resumi eu o clima no Algarve dos últimos tempos.

“Pois…a seca é má para tudo. Não há nada para que sirva, é má para os campos, para a pesca…”

“Para a pesca?”, interrompi, pensando tratar-se de um engano.

“Sim, para a pesca também faz falta que chova em terra. Se chove, o mar fica revirado e isso é bom para a faina. A terra que vem de terra alimenta os peixes…a seca em terra, também é seca no mar!”

A aparente contradição, haver seca no mar, depois do espanto inicial, fez-me pensar que o Mestre tinha mais que razão.

Sempre que chove em terra, os sedimentos são arrastados para os cursos de água e, por sua vez, estes são transportados para o mar. O mar fica então carregado de sedimentos vindos de terra, com a cor alterada, como se tivesse sido lavrado. Seria isto que o pescador queria dizer com “revirado”?

Talvez.

Todo o aporte sedimentar continental, carregado de matéria orgânica e mineral, contribui para a produtividade do meio marinho. Elementos químicos como o carbono, azoto e fósforo são fundamentais para os ecossistemas marinhos. A falta de um meio que os transporte da terra para o mar, a água, irá originar alterações na produtividade destes ecossistemas. A influência terrestre é especialmente importante em ambientes estuarinos como aquele a que o Mestre se referia e onde pesca – em zonas próximas à foz do Rio Arade.

O mar precisa da água e das substâncias da terra. De um mar revirado dependem os ecossistemas marinhos e, também, os pescadores.

As conversas de café têm disto: percebermos que a seca em terra…também é seca no mar.

 

Referências:

Lake, P. S. (2011) Estuaries and Drought, in Drought and Aquatic Ecosystems: Effects and Responses, John Wiley & Sons, Ltd, Chichester, UK. doi: 10.1002/9781444341812.ch10

Consultado o capítulo 10 “Estuaries and drought” em Google Books

 

Sul InformaçãoAutor: Luis Azevedo Rodrigues é professor, doutorado em Paleontologia, divulgador de Ciência e coordenador dos Centros de Ciência Viva do Algarve

É ainda autor do blogue Ciência ao Natural

 

 

 

 

 

vamos à vila 2025

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