Não sei se chego a perceber o porquê de tanto ruído em torno da maçonaria. Nós, os jornalistas, temos disto. De vez em quando, arranjamos um tema e durante semanas não conseguimos falar de outra coisa. O problema é que a partir do segundo dia já não acrescentamos nada de novo à discussão e o que se segue são matérias enfadonhas, com mais do mesmo.
A coisa resultou? O público mostrou-se interessado? Então vamos continuar, escarafunchar até não sobrar nada. Matar o assunto. Insistimos tanto, tão depressa e com tanta preguiça que o desfecho acaba por ser sempre igual: saturamos as pessoas e saturamo-nos a nós próprios.
Tendo em conta a histeria dos últimos dias, parece que descobrimos agora que a maçonaria existe. Pior. Como se até há quinze dias ninguém soubesse que o Parlamento, a vida política e pública em geral estão cheios de maçons.
A coisa é tão evidente que na Assembleia da República existe uma casa de banho – sim, sanitários – que assinala, desde há anos, a presença maçónica naquele órgão de soberania. Pois: lavabos com o tradicional preto e branco do movimento.
Perante a evidência – não deve haver organização secreta mais pública do que esta – mãos ao céu, vêm os iluminados do costume defender uma declaração de interesses, exigir que quem é – porra, são quase todos – seja obrigado a dizê-lo.
Mesmo que o fizessem, o que é que aconteceria a seguir? A política em Portugal transformar-se-ia numa coisa primaveril?
Grupos de pressão existirão sempre. Chamemos-lhes maçonaria, Sonae ou Isabel dos Santos, o resultado há-de ser idêntico.
Posto isto, recentremos a discussão no essencial: os tipos apertam o avental sozinhos ou pedem ajuda ao maçon do lado?
Nuno Andrade Ferreira é jornalista, vive e trabalha no Mindelo (Cabo Verde) e escreve regularmente no seu blogue Marcha dos Pinguins: http://marchadospinguins.blogspot.com