Um palco e 28 criadores a quem foi feito um desafio: tens alguma coisa para dizer no escuro? Este é o ponto de partida para o projeto Tell que, em novembro, vai passar pelos teatros municipais de Faro e de Portimão, mas também pelas ruas do Algarve.
Tell é, assim, um festival de performances (sete por noite) de curta duração (10 minutos) no escuro, «um jogo com obstáculo pré-definido e igual para todos, que expõe a variedade infindável de soluções e formas de “jogar”, de “ilusionar”», explicam os seus promotores.
Em cada sessão, é possível dança contemporânea, jazz, música ligeira, artes plásticas, teatro, cinema, literatura… «Mais do que áreas ou disciplinas artísticas teremos cruzamentos, teste de limites, experiências e experimentação».
Pelos palcos do Tempo e do Teatro Lethes, vão assim passar Ana Deus, Anabela Moutinho, António Olaio, Chullage, David dos Santos, Lara Li, Margarida Guia, Nuno Aires, Susana Coelho, Valter Hugo Mãe, Viviane, Zé Eduardo, Migas, Carlos Vaz Marques, Leonor Keill, Algodão/Pacman, O Meu Pipi, Ana Borralho & João Galante, Flávia Gusmão, Miguel Bonneville, Joana Craveiro, António Júlio, Carlos Norton, Joclécio Azevedo, Ana Luena, Migas, Inês Vicente, e alunos do percurso curricular alternativo da Escola EB 2,3 D. Martinho de Castelo Branco (Portimão) e ainda da Escola Secundária Tomás Cabreira (Faro).
«O projeto Tell nasceu no Porto em 2008 e envolveu sempre artistas de todo o país. Em 2010, um dos artistas era do Algarve e insistiu connosco para que o projeto fosse trazido até cá. Fomos falar com os teatros municipais de Faro e de Portimão e avançámos», explicou ao Sul Informação Sérgio Marques, coordenador do projeto.
«A nossa ideia é fazê-lo em locais com atividade cultural insuficiente», como é o caso do Algarve, acrescentou.
A partir daí, tem estado a ser feito «um trabalho conjunto pela equipa do projeto Tell e pelas direções artísticas dos dois teatros municipais», de tal forma que o Tell se apresenta agora adaptado ao contexto algarvio, envolvendo duas cidades – Faro e Portimão -, e com a estratégia de juntar em cada sessão sete artistas e criadores de diferentes áreas, registos, escolas e gerações, oferecendo ao público, uma proposta diversificada, que pode ir da dança contemporânea, ao jazz e música ligeira, das artes plásticas, ao teatro, cinema, literatura….
As sessões decorrerão à quinta-feira, em Portimão, e na sexta-feira seguinte em Faro, durante quatro semanas consecutivas, no mês de novembro, ou seja, nos dias 3, 10, 17 e 24, na primeira cidade, e 4, 11, 18 e 25, na segunda.
Assim o Tell será promotor de 28 criações originais, reunidas em oito espetáculos, perfazendo um total de 56 performances.
Pelos palcos algarvios passará um criador dos Açores, dez de Lisboa, oito do centro e norte do país, e nove do Algarve. Mas entre estes criadores que aceitaram o desafio há nomes que não podem ser propriamente considerados como gente do espetáculo, como Anabela Moutinho, presidente do Cineclube de Faro, ou Nuno Aires vice-presidente do Turismo do Algarve.
Sérgio Marques explica que «quando começámos no Porto, também fizemos desafios a pessoas de outras áreas, como das ciências ou assistentes sociais. Este desafio “tens alguma coisa para dizer no escuro?” é válido para criadores, mas também para pensadores, para todas as pessoas que acham que podem dizer algo no escuro».
«As pessoas pensam que Tell é a palavra inglesa para «dizer», mas não é. O nome Tell surgiu da lenda de Guilherme Tell, o famoso arqueiro que foi obrigado a demonstrar a sua perícia e arte acertando com uma flecha numa maçã colocada na cabeça do seu próprio filho. Aos 28 criadores é feito um desafio para que façam uma demonstração de perícia», sublinhou o coordenador do projecto.
Mas o Tell extravasa as salas dos teatros municipais de Faro e de Portimão. Para divulgar os espetáculos, «vamos fazer distribuição de maçãs, que são o nosso símbolo, nas ruas. Essas maçãs serão oferecidas às pessoas embrulhadas no flyer de divulgação do festival». «Ninguém vai ficar indiferente!», garantiu Sérgio Marques.
Esta distribuição será feita nas duas cidades e ainda nas zonas limítrofes, «ao estilo muito próprio do carro de som, um veículo de feira, estacionado ou em movimento», que «difunde – por ruas, pracetas, vielas e paragens de autocarro –, pequenos programas poético-musicais em que a fruição das matérias puramente sonoras será objeto de uma atenção privilegiada. O que é que és capaz de dizer às claras?», explica Regina Guimarães, responsável pelos textos desta vertente do projeto.
«O Tell é um projeto de formação de públicos, para seduzir as pessoas com espetáculos muito diferentes, com muitos registos num espetáculo só. O público que vai ver o Pacman não está à espera de, a seguir, ver uma performance de dança», acrescentou o coordenador.
Sérgio Marques que, na Faro Capital Nacional da Cultura 2005, foi um dos responsáveis pela programação da área de cinema, conhece bem o terreno, os equipamentos, as pessoas, as logísticas do Algarve.
E tem até ideias curiosas e atentas sobre a região. «O Algarve tem uma característica diferente que é ser um espaço de circulação. No fundo, é uma grande cidade com vários centros, entre os quais as pessoas circulam».
Por isso, considera, «o Algarve tem um potencial muito forte e pede projetos de circulação, itinerantes. As pessoas estão habituadas a circular e isso é uma característica muito boa em que se pode pegar».
Em novembro, o festival de performances Tell vai subir aos palcos do Tempo e do Teatro Lethes. Os bilhetes para cada dia de espetáculo custam sete euros, um euro por cada artista que nesse dia se apresenta.
E se formos descobrir o que eles têm a dizer no escuro?